21 de setembro de 2010

Minhas Leituras - "Magneto - Testamento": a origem da vilania


      Outro dia meu namorado me emprestou o HQ Magneto – Testamento publicado pela editora Panini. Adoramos esse tipo de leitura, afinal, heróis, super-heróis e vilões sempre rendem uma boa discussão. E Magneto rende boas reflexões.
      Quem achar que essa leitura mostrará como ele se tornou um mutante e como ganhou os seus poderes ou quando começou a usá-los poderá se decepcionar. A história, entretanto, nos faz compreender a origem de sua vilania e porque a sua mutação está relacionada com metais/magnetismo. Compreendemos porque ele defende uma supremacia dos mutantes.
      O verdadeiro nome Erik Magnus Lehnsherr é Max Eisenhardt, sobrenome judeu alemão. Eisen em alemão é ferro, desde jovem Erik demonstra habilidade no manuseio desse material e outros metais (faz colares, consegue jogar longe uma lança de ferro no colégio, encontra moedas, etc.). O elemento ferro estar em seu sobrenome talvez justifique o motivo pelo qual Magneto tenha controle dos campos eletros-magnéticos e manipula o ferro em todos os seus estados, bem como levita outros seres que tenham o ferro em sua volta. Mas, em minha opinião, não é isso que nos prende à leitura dessa história em quadrinhos.
      Há uma frase nessa história que permeia quase toda a narrativa: “Há um momento na vida em que tudo se alinha”, essa frase mesmo após a leitura continuou ecoando em minha cabeça. Os alinhamentos dos momentos nessa história despertam o vilão. É um ciclo, a intolerância vivida gerará a intolerância sentida.
      O HQ conta a história da ascensão do regime nazista, passando pelos árduos tempos dos campos de concentração até que a Segunda Grande Guerra chegasse ao fim com a Alemanha nazista derrotada. A narrativa dessa história em quadrinhos trata a ditadura nazista de forma bem real e contundente. Max Eisenhardt era um jovem judeu que cresceu em meio à ascensão do regime nazista na Alemanha dos anos 30, viu o seu povo ser humilhado e perseguido pelos alemães. Na escola não podia demonstrar ser mais inteligente ou habilidoso que seus colegas, desafiar essas leis implicou em sua expulsão da escola. Max e sua família fogem para a Polônia em busca de refúgio, mas os alemães acabam invadindo também o solo polonês, assim, acabam no Gueto de Varsóvia, tentam a fuga, mas são traídos e encontrados pelos nazistas, sua família é executada. Max é levado para o mais temido campo de concentração, Auschwitz. E até o fim da Guerra Eisenhardt tenta se manter vivo nos campos de concentração, passando pelas mais diversas situações de horror.
      Após a leitura refleti sobre a seguinte questão: o homem é produto do meio. Magneto cresceu em um ambiente de intolerância e repulsa, onde uma “raça” se dizia superior à outra, em um período em que os judeus não eram tratados como humanos. Adolf Hitler e Magneto seriam criador versus criatura? Hitler acreditava que a raça ariana era superior, que eram mais fortes e que os alemães deveriam dominar o mundo. Erik Lehnsherr quer que o mundo aceite a raça mutante, mais quer que os mutantes dominem o mundo por julgar que os poderes/dons são a prova da superioridade de mutantes sobre humanos. É nesse ponto que entendemos porque Erik tem tanto ódio da humanidade. Longe de colocar o personagem real e histórico no mesmo patamar que o personagem da ficção ou de comparar a barbárie de uma guerra real com a guerra da fantasia, mas podemos notar que o nazismo espalhou tanta maldade que gerou vilões para além da realidade. Pensando dessa forma, Magneto seria o Hitler do universo mutante. Se para o ditador nazista judeus, ciganos, negros e outros povos eram uma subraça, para Lehnsherr essa subraça é formada por todos os humanos. Magneto tem várias personas: é o oprimido, o questionador e o opressor. Tal história não pode justificar, mas pode nos fazer entender a vilania brotada nessa personagem. Há personagens que usam a dor para praticar o bem, há personagens que usam a dor para vingar-se. Magneto é um vilão que quer vingar-se da humanidade, mas nunca me causou medo, pelo contrário, me causa compaixão. Longe de defender o vilão, mas como não compreendê-lo?
      Magneto – Testamento é uma ficção que tem fatos reais como pano de fundo, é impossível ler as passagens sem um nó na garganta e sem percebemos que nem a ficção foi capaz de amenizar tal momento da história mundial.



Ficha:

Marvel Coleçoes - Magneto - Testamento, Vol.04

Autor: PAK, GREG

Ilustrador: GIANDOMENICO, CARMINE DI

Editora: PANINI LIVROS