10 de novembro de 2011

USP - Era dos extremos

     
    A principal universidade do país vive hoje a era do extremos! Os radiciais estão em ambos os lados, e a democracia passa longe... O debate (se é que ele existe) é cego, surdo e burro! 
     Entrei na USP em 2005, mais exatamente no curso de Letras - isso aí, sou FFLCH e com muito orgulho! Na primeira semana de aula, a chamada "calourada" nos mostra como aquele universo é novo, quantas ideias novas, quantas visões diferentes você passa ter... Nessa semana também, o pessoal do centro acadêmico tenta recrutar "novos camaradas" para a sua trupe. Confesso, que no meu 1º ano de faculdade, eu acreditava no movimento estudantil, assistia as assembleias dos estudantes, havia o estímulo ao debate político. Debate político é importante, mas é fundamental que nele estejam presentes todos os lados: direita, esquerda, centro, em cima do muro - ouvir só um lado, nos leva a estupidez... Com o tempo, você vai desenvolvendo o senso crítico, amadurecendo a sua capacidade de  selecionar o que você ouve, e percebe que nem tudo é como o movimento estudantil quer pintar. 
    Lembro de uma vez, que de uma assembleia na Letras o pessoal partiu rumo à administração da FFLCH, para invadir uma reunião que lá acontecia (sobre a parceria com o Santander, e os diplomas para o ensino de espanhol). Os motivos para essa "invasão" me pareciam plausíveis, concordava que esse assunto devia ser debatido e melhor esclarecido para os alunos... Fui atrás dessa passeata: um misto de apoio, um misto de curiosidade para ver no que dava, como funcionavam essas ações... E quando o fato se deu, bem... senti vergonha! Uma das meninas subiu em cima da mesa, e foi lá apontar o dedo na cara do Gabriel Cohn (diretor da FFLCH), nada do debate importante que havia acontecido na assembleia foi falado lá, o que se via era um circo armado dos alunos para debochar e questionar a autoridade do Cohn! Nunca fui fã dele, mas aquelas cenas foram desnecessárias... e foi aí, que comecei a me decepcionar com o movimento estudantil na USP.
    Eu acho importante a existência de um movimento dos estudantes, eu acho que é papel do estudante de uma universidade pública procurar o debate, trazer questionamentos para a sociedade, eu acho que é papel dos estudantes protestar e lutar pela melhoria do ensino público em nosso país, pela contratação de mais professores (e que eles tenham melhores salários, investimento em sua formação e plano de carreira), pela melhoria na estrutura física na universidade, pela melhoria dos cursos e de sua grade curricular, pelo incentivo à pesquisa acadêmica e às publicações, acho importante fazerem marchas contra a corrupção, contra a violência, etc. Mas ao mesmo tempo, eu acho que o movimento estudantil não deveria estar ligado à partidos políticos, ser bancado por partidos políticos, levantar bandeira de partido político... Dessa forma, o foco acaba sendo perdido, debates que não condizem com os interesses da universidade começam a surgir e o que é realmente importante é deixado de lado, e vi isso acontecer muitas vezes... Convocam assembleia para discutir coisas importantes e o que acabava acontecendo? Briguinha partidária!!! Já apoiei muita greve, hoje, não apoio mais, porque acredito que ela não leva a lugar nenhum. Nada se ganhou...
   No que diz respeito a última invasão da reitoria: Não gosto de ver as generalizações que vêm ocorrendo, não gosto de ver gente que não entende o processo direito falando mal da USP e todos os alunos sendo tachados de "playboy", "filhinhos de papai", "maconheiros", "baderneiros", e de todo espetáculo midiático em torno do caso... Mas também não aceito que o pessoal que invadiu a reitoria se coloque de vítima, mocinhos da história. Não há mocinhos e não há vilões!!! Da mesma forma que os estudantes são generalizados, os policiais militares e os contrários aos protestos, são generalizados pelo movimento estudantil... Pois é assim que o movimento pensa: "se não estão do nosso lado, são reacionários e estão errados". Nem todo estudante  que participa de protestos, que questiona a USP e o governo é rebelde sem causa, da mesma forma, nem todo político e nem todo PM é corrupto, arbitrário e violento!
    O pessoal que invadiu a reitoria merece sim ser punido, eles não estão acima da lei, os fins não justificam os meios - aquilo não foi manifestação, foi baderna, palhaçada! Invasão é crime! Esses alunos se portaram como uma gangue, como bandidos. Eles podem até ser contrários a presença da PM no campus, mas se querem manifestar-se contra, que o façam por outros meios! Procurem meios inteligentes de serem ouvidos, invadir reitoria só depõe contra eles próprios, dessa forma nunca terão o apoio da sociedade. Atitudes como essa só levam à repulsa... Eles alegam que a PM não vai aumentar a segurança, pode até ser, mas quem pode afirmar que não vai? E por que a presença da PM no campus vai contra a autonomia universitária? Não, não estamos na ditadura - época em que a polícia ficava na sala de aula controlando o que o professor ia ensinar... A mídia é manipuladora? Sim, mas muitas vezes, as ações dos estudantes dão respaldo para que isso aconteça. Não ter apoio da sociedade não é culpa do que a mídia diz a respeito dessas "manifestações"...
    A PM comete abusos, é violenta? Sim, mas o movimento estudantil também é... A PM agrediu alguns alunos sem justificativa? Sim, mas alguns policiais também foram agredidos por alunos de forma gratuita, os próprios alunos também se agridem... afinal, querer bater em colega só porque ele não quer apoiar a greve e quer entrar em sala para assistir aula, é o que?
   Os alunos querem diretas para reitor, concordo! Os alunos querem que a USP seja democrática, concordo! Os alunos querem ser ouvidos, opinar, concordo! Mas eles também devem aprender democracia, e a ouvirem opiniões adversas. Movimento estudantil da USP, vocês também não são democráticos, a esquerda nunca quer ouvir a direita, a direita nunca vai respeitar a esquerda - e quem perde com isso é a Universidade!
    Me formei na FFLCH, não sou de esquerda, não sou comunista, não sou de direita, não sou de partido político nenhum. Mas, sou a favor da PM no campus, sou a favor de democracia na USP, sou a favor de uma universidade pública voltada para a sociedade, voltada para todos! Quero que os radicalismos, quero que os extremos uspianos se extirpem, acredito que quando houver um diálogo equilibrado de todas as partes, a USP vai melhorar...

19 de junho de 2011

Ah, esse Buarque!



      O poeta, o boêmio, o malandro, o romântico: eis Chico Buarque, o conquistador! Que outro compositor entendeu tão bem a alma feminina? São tantas as mulheres de Chico: a vingativa, a inocente, a apaixonada, a amante, a esposa, a separada, a eterna namorada, a traída, a que traí, a amargurada, a dissimulada, a mãe, a prostituta... Qualquer garota ou qualquer mulher já se identificou com uma dessas personagens escritas e cantadas pelo poeta Buarque. A cada letra, a cada canção surge a estranha e pungente sensação: "foi assim que me senti", "é assim que me sinto", "é assim que eu queria falar", "era assim que eu queria agir"... a palavra cantada de Chico é a palavra sentida ou pensada de qualquer alma feminina.
      Como não se apaixonar pelo mais encantador, pelos olhos verdes desse de Holanda? É fato, em algum momento de sua vida uma mulher já se apaixonou perdidamente - para sempre ou por um segundo - por Chico Buarque, já quis se casar com ele: nossas avós, nossas mães, nossas amigas e até nós mesmas... O homem que quer entender uma mulher deveria escutar os bons conselhos que Chico lhes dá de graça, em suas canções...
     Chico Buarque, com "seus olhinhos infantis", completa hoje 67 anos de vida! Chico chegou para nós, como quem chega do nada, com um jeito manso que é só dele e se instalou feito um posseiro dentro de nossos corações. Ele nada nos perguntou, apenas nos leu, apenas nos entendeu e traduziu nossas almas nas letras e nas canções... sem rodeios, Chico Buarque quase nos mata de tanto amar!

Obs: dedico esse post para minha mãezinha, que colocou esse poeta Buarque em minha vida!

10 de junho de 2011

Um cantinho, um violão – 80 anos de João Gilberto

     
      João Gilberto – o pai da Bossa que não é mais nova  – completa 80 anos. Nasceu em Juazeiro, indisciplinado, talvez com um comportamento anti-musical, queria ser crooner, foi para o Rio de Janeiro e lá sua patota era formada pelo Maestro Soberano, pelo Poetinha, pela Divina e uns outros universitários da classe média que só queriam saber de fazer música: nascia a Bossa Nova. 
      Sisudo, gênio controverso, ame-o ou odei-o! Musicalmente perfeccionista... Ar-condicionado não pode; barulho também não; longe com os engenheiros de som e mixagens; que as distorções passem longe;  João canta baixinho, tem uma batida diferente no violão, não falem em seu show... Não tem discussão: ele vai parar tudo, vai se levantar e partir com sua música.
      Arrogância, loucura, capricho de um músico único e genial? Vai saber...
     Já diria Sérgio Cabral "nenhuma figura da música popular brasileira esteve tão perto da perfeição". É... isso é João Gilberto, isso é bossa-nova, isso é muito natural. Ele pode desafinar na relação com a imprensa e com o público, ele pode! Seus "maus modos" são perdoados quando sua voz e o violão tocam nossos ouvidos: um som, uma musicalidade sofisticada e graciosa. Sim, meus caros, no peito de João Gilberto também bate um coração, ele é o fino da bossa!

19 de abril de 2011

Você precisa ouvir aquela canção do Roberto!



     
      Que me perdoem os chatos de plantão, mas Roberto Carlos é fundamental! Cresci ouvindo as canções do Roberto e não me canso de ouvi-las... acredito que seguirei ouvindo, ouvi-lo é uma daquelas coisas que se passa de mãe para filha. 
      Roberto Carlos completa 70 anos de vida e já completou 50 anos de carreira! Nesse ano já foi até enredo de escola de samba, e ano após ano mantém seu status de rei de nossa música. Há pessoas que não escutam suas músicas, há os que julguem as suas canções pobres ou bregas, há os que dizem que ele faz há anos o mesmo show, as mesmas músicas, que não se renova... respeito a opinião, mas sinceramente, se tratando de Roberto Carlos isso é besteira.
      Ele foi o rei da Jovem Guarda e namorou esse tal de rock'in'roll... era uma brasa, mora? Teve mil garotas e fez o tipo lobo mal, ele foi o tal! A onda do iê-iê-iê foi passado e o lado romântico de Roberto Carlos florescendo. Em 1968, Roberto foi passear lá na Itália apresentado a canção Canzone per te no festival de San Remo e muita gente, do lado de cá ficou enciumada. É, muita gente falou mal de RC, criticavam o cantor popular que estava nascendo.
      Roberto Carlos virou rei! Ou será que já era? Difícil dizer quando ele virou majestade, acho que foi rei desde sempre... E o pessoal da música "cabeça", "engajada", "erudita" teve que engulir a seco o fato de que, no Brasil, um rei é posto no trono pelo povo. E ano após ano, o trono desse rei que gosta de trajar azul está garantido. Tem-se que tirar o chapéu, aqui, manter-se nesse posto por tanto tempo é algo para poucos. Nosso rei tem fãs de todas as idades, de ambos os sexos, de todas as regiões, com todos os sotaques, de todos os credos, de todas as classes sociais... Roberto Carlos não divide tribos, tem para todos os gostos! RC compôs canções bregas?! Sim, é claro... não gosto da fase das mulheres: de 40, de óculos, baixinha, gordinha... nem de concâvo ou convexo! Mas que se faça justiça, há lindas e lindas canções de amor. Os amores de Roberto são muitos, de todos os tipos também... O amor de filho para mãe, de amigo para amigo, amores vividos, amores sonhados, amores companheiros, amores traídos, amores ressentidos, amores perdidos, amores que já estão em outro plano. E, por mais que você relute, uma dessas canções vai tocar seu coração.
      Sou fã de Roberto Carlos, não tenho vergonha nenhuma em assumir... Não perco o especial de final de ano por nada nesse mundo, e choro, choro, choro... todas as vezes. É, ele é desses cantores que tocam nossa alma, com letras que traduzem seus sentimentos, coisas que se queria dizer para alguém... É o popular, com os sentimentos mais profundos que se pode ter! Gostanto ou não... reverencie, ele é o rei!
     
    

16 de abril de 2011

Me lembrou Carlitos...






      A Comédia, segundo Aristóteles, trata dos homens inferiores, isto é, trata de homens comuns (questões do dia a dia, rotineiras) ao invés de tratar sobre os deuses. Aristóteles não poderia prever que séculos depois o mundo ganharia um Deus da Comédia. Um homem comum que fez do gênero cômico uma arte elevada, um homem que tornou-se um dos mais aclamados atores e cineastas da História. Esse deus atenderia pelo nome de: Charles Spencer Chaplin.
      Charles Chaplin ficou famoso pelo seu personagem principal: The Tramp, ou Charlot, ou Carlitos, ou O Vagabundo. E que vagabundo mais adorável o cinema nos deu! O andarilho mais gentleman de todos os tempos, trajava um fraque preto (todo surrado), calça larga demais para seu corpo, sapatos gastos e grandes demais, um velho chapéu-coco, uma bengala e usava um bigodinho, além de ser dono de um andar todo seu.
     Chaplin nasceu em 16 de abril de 1889, em Londres e estaria celebrando 122 anos de vida. Em 1913 muda-se para os EUA onde inicia sua carreira no cinema. No começo, Chaplin que havia crescido no teatro vitoriano, teve dificuldade para adaptar-se a esse meio. Com o tempo, ele mesmo dirigiu e produziu seus filmes e assim, dominou a 7ª arte como ninguém. Charles foi deixando o pastelão de lado e introduzindo sentimentalismo ao gênero. A comédia de enganos, o personagem que gozava dos outros e dava-lhes pontapés e tijoladas também foi ganhando emoção, afeto e uma dose de pathos. Seus filmes, em um timing perfeito, nos causam o riso e o choro, a alegria e a emoção. Que outro vagabundo poderia ter causado mais afeto em seu público? Havia também um tom de crítica em seus filmes, crítica à modernidade e aos regimes ditatoriais.
      O país em que se consagrou artisticamente, tratou-lhe mal. Na era do macarthismo foi acusado de atividades anti-americanas, incluido na lista negra de Hollywood. Muito disso foi causado pelas especulações e boatarias da chamada impressa-marrom. Em 1952 o visto de emigração de Charles Chaplin foi revogado pelo governo americano, que se aproveitara de sua viagem ao Reino Unido para divulgação de um filme. Chaplin, então, exila-se na Suíça.
      Vinte anos depois, Carlitos retorna aos EUA para receber um Oscar Honorário e foi ovacionado em pé por cerca de dez minutos. Será que nesses aplausos, havia um certo pedido de perdão por parte daqueles que lhes viraram as costas anos antes? O olhar de Chaplin, embaixo do telão que exibia imagens de seus filmes, assistindo a essa homenagem com os olhos marejados é algo marcante. Nessa época sua saúde já ficava debilitada e cinco anos depois, aos 88 anos, em uma noite de Natal as cortinas do mundo fecham-se para ele.
      Chaplin jamais será esquecido, seu clássico andarilho será eternamente lembrando, assim como seus clássicos filmes: Vida de cachorro, O Garoto, Pastor de almas, Em busca do ouro, Tempos modernos, O grande ditador, O circo, Luzes da cidade e Luzes da ribalta, Um rei em Nova York, etc. As canções de seus filmes também sempre embalarão nossos corações.
      Chaplin nos ensinou muitas coisas, e principalmente, nos ensinou que apesar de todas as adversidades nunca deveremos deixar de sorrir. Como não abrir um sorriso com Carlitos? Obrigada por tudo Sir Charles Chaplin!

2 de abril de 2011

Dia do livro infantil - Hans Christian Andersen






      O escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen, completaria 206 anos de vida. Obviamente, nenhuma pessoa chega com vida nessa idade, mas a sua obra e o seu legado sim. Grandes escritores tornam-se imortais através de sua obra.
    Andersen é um dos principais nomes da literatura infantil, sua obra tem encantado crianças de todo o mundo através do decorrer da História. Entre suas mais famosas obras estão: A princesa e a ervilha, A pequena vendedora de fósforos, A roupa nova do rei, A polegarzinha, O soldadinho de chumbo, O patinho feio e A pequena sereia.
    O escritor nasceu em uma família muito pobre, mas a vida humilde que levou não o impediu de criar histórias ricas em imaginação e valores. Foi ele a primeria voz a criar doces histórias para as crianças. Sim, Andersen criava histórias como ninguém havia feito. Antes a literatura destinada ao público infantil e juvenil era feita por compiladores (como os irmãos Grimm), isto é, pessoas que registravam contos e histórias populares, e os reuniam em livros.
    A magia dos contos de fadas, sobretudo, dos contos criados pelo autor aqui homenageado está no fato de eles serem atuais e, ainda mais, nos mostram que a fantasia pode educar. Sim, as lições passadas nesses contos podem ser usadas em nossa atualidade.
     O conto do patinho feio, pode ser um dos primeiros registros de bullying. Um patinho que não se encaixava nos padrões dos demais, era rejeitado pela mãe, pelos irmãos, todos o maltratavam: chamavam-no de feio, o rejeitavam e o perseguiam. O conto também fala de superação, o patinho foge, procura um lugar em que seja aceito, vai crescendo, até encontrar um grupo de belos cisnes que o aceita, o patinho feio havia se tornado um belo e imponente cisne. A beleza nasce quando menos se espera, portanto, não desdenhe se não puder enxergá-la antes.
    Em a roupa nova do rei, Andersen abriu os olhos daqueles que são cegados pelo poder (opressor e oprimidos), desnudou a realeza e nos mostrou o quão puro é olhar de uma criança, único ser capaz de dizer a verdade sem temor.
    O amor e tudo que o cerca também esteve presente em seus contos: o amor sem final feliz entre O soldadinho de chumbo e a sua bailarina, o amor que depende de provas como em A princesa e a ervilha, o amor maternal e o amor que precisa lutar e reencontrar o ser amado estão em A polegrazinha e por fim, o amor incomensurável e de abdicações que encontramos em A pequena sereia.
    Que a data de hoje, seja sempre celebrada! Não apenas para lembrar Hans Christian Andersen, mas para celebrar todos os escritores de literatura infantil e juvenil. Todos aqueles que colocam o universo das crianças na ponta do lápis, tornando a fantasia, a imaginação, os sentimentos e as lições de vida coisas palpáveis. Que a literatura infantil mantenha sua qualidade, pois a formação das pessoas também depende muito do que leram na infância.


3 de março de 2011

O Carnaval, o samba e os desfiles - Homenagem aos sambistas e as escolas de samba

   Abram alas, o Carnaval chegou! Durante o período carnavalesco o Brasil será conduzido por uma orquestra de instrumentos de percussão: que venham os tamborins, os repiques, os tantãs, os surdos, os agogôs, as cuícas, os reco-recos, os chocalhos, pandeiros e tudo mais que gere um bom batuque e nos brinde com o melhor do samba e do samba-enredo. 
    Sim, no Brasil, Carnaval é o tempo sagrado para se ouvir um bom partido-alto, um samba de terreiro, samba-choro, um samba-canção, um samba-exaltação, um samba-de-breque,  um samba-enredo. O samba vem da Bahia, vem do morro carioca, vem da garoa paulistana, vem do fundo de um quintal... mas não podemos esquecer que sua raíz vem lá da África! Sim, o nosso Carnaval é o tempo de relembrarmos nossas raízes africanas e resgatar um pouco da nossa História. 
    As escolas de samba muitas vezes cumprem (ou pelo menos tentam) essa missão através de seus desfiles. O samba-enredo é um conjunto de letra e melodia que resumem um tema, ou seja, o enredo escolhido por uma escola de samba. As escolas de samba estão ligadas a história do carnaval carioca: em 1928, no berço do samba, nascia o bloco Deixa Falar (entre seus fundadores estava o grande Ismael Silva) que seria o esqueleto da nossa 1ª escola de samba: Estácio de Sá. Assim, novos blocos/escolas foram surgindo e disputando o carnaval com seus sambas-enredo. Foi na década de 1930 que esses concursos foram oficializados e que as escolas passaram a exaltar personagens e fatos históricos. Obviamente, a veracidade histórica dos enredos carnavalescos pode e deve ser contestada, pois baseiam-se em olhares folclorizados. Os enredos históricos começaram a ser cantados pela perspectiva do colonizador e depois dos colonizados (opressor versus oprimido): de um lado a camuflagem dos fatos da terra daqui, de outro lado o imaginário sobre a terra de lá - um festival de verdades míticas, um festival de mentiras históricas - mas, sempre rendiam uma boa letra de samba-enredo.  Hoje os sambas-enredo continuam com sua veracidade constestada, pois somarem-se os olhares dos coreográfos e cenógrafos que querem produzir um espetáculo apoteótico - os desfiles se renderam ao show-business - o Carnaval virou o maior evento da nossa cultura popular e da indústria cultural. É preciso ressaltar que os enredos são livres e não são só sobre a África, ou temas da História. Verdades ou mentiras, popular ou industrial o fato é que os desfiles do passado e os desfiles de hoje despertam grande fascínio.
    Estudos acadêmicos à parte, é necessário dizer que certas escolas de samba, toda vez que pisam na avenida provocam em muitas pessoas uma emoção inexplicável. Aliás, um bom samba é uma emoção inexplicável! É por causa do samba e das escolas de samba que gosto tanto do Carnaval.
   É emociante ver o azul e branco portelense tingindo a avenida, nesse momento mágico (dentro do coração de quem gosta de samba) sabemos que é a deusa do samba que está desfilando. O azul e branco também podem ser da escola lá da Vila, aquela que não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também. Pode ser também da magestosa e soberana, de fato, nilopolitana Beija-Flor. Quando as cores passam a ser o verde e rosa, temos a ciência que veremos a beleza de um cenário que a natureza criou - sim, é a Mangueira que chegou. E o vermelho e branco? Ah, pode ser a academia de samba que me faz feliz, salve Salgueiro! Pode ser também, o lugar onde podem matar-nos de amor... a escola de samba do largo do Estácio. Tantas cores, tantas histórias, tantos enredos, tantas melodias, tantas baterias - salve Tradição, Mocidade Independente de Padre Miguel, Viradouro, Unidos da Tijuca, Porto da Pedra, Caprichosos de Pilares e tantas outras...
   Ah, e nos desfiles não podem faltar a vozes potentes dos intérpretes de samba-enredo (puxador NÃO, como diria o grande Jamelão), o som do cavaquinho, as saias rodopiantes da ala das baianas, a encenação da comissão de frente e a elegância de um mestre-sala e sua porta-bandeira.
  Tirando os desfiles de carnaval e os sambas-enredo... Como é bom ouvir um bom samba e suas variantes. Sim, o carnaval é o tempo de lembrar que o samba vem do coração, que funciona como oração! 
  É Carnaval: Salve Ismael, Sinhô, Adoriran, Cartola, Noel, Candeia, Anicetos ( da Portela e do Império), Argemiro, Ataulfo, Casquinha, Dona Ivone, Dona Zica, Heitor dos Prazeres, João Nogueira, Jackson do Pandeiro, Jair do Cavaquinho, Jamelão, Jovelina Pérola Negra, Luiz Carlos da Vila, Manaceia, Monarco, Moreira da Silva, Bezerra da Silva, Martinho da Vila, Mestre Marçal, Nei Lopes, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Nelson Rufino, Paulo da Portela, Paulinho da Viola, Ratinho, Riachão, Silas de Oliveira, Tobias da Vai-Vai, Tia Eulália, Tia Doca da Portela, Tia Surica, Tinga, Walter Alfaiate, Zeca Pagodinho, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Noite Ilustrada, Elizeth Cardoso, Noca da Portela, Dorival Caymmi, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Teresa Cristina, Quinteto e Branco e Preto, Diogo Nogueira, Roberta Sá, Chico Buarque, Vinicius e Tom. Salve as velhas guardas: da Portela, da Mangueira, do Império... Salve Osvaldo Cruz e Madureira e todos os poetas da Praça Onze!
 Salve a todos que trazem o samba na alma e bom Carnaval!!!

2 de março de 2011

Mamonas Assassinas - 15 anos de saudade







    Utopia... Entre algumas definições desse verbete no Houaiss está: "projeto de natureza irrealizável; ideia generosa, porém impraticável; quimera, fantasia". Para muitas pessoas esse projeto irrealizável está em montar um banda (possivelmente de rock) e fazer sucesso.  
    Utopia foi o primeiro nome de uma banda formada por cinco garotos de Guarulhos, garotos que se apresentavam na periferia de São Paulo fazendo covers de bandas de rock. Entretanto, o tom sério do nome e os covers de "bandas sérias" não combinavam com o espírito brincalhão dos cinco integrantes, eles eram melhores fazendo performances engraçadas e paródias musicais. Utopia cedeu ao escracho, o irrealizável ia cedendo ao realizável e assim, nascia uma banda chamada Mamonas Assassinas.
    Em Julho de 1995, o Brasil passava a conhecer e a gostar de Bento, Dinho, Júlio, Samuel e Sérgio. Em pouco tempo as crianças, os jovens e os adultos passavam a cantar: "Roda, roda  vira, solta a roda e vem/Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém", "Mina, seus cabelos é da hora...", "Quanta gente, quanta alegria, a minha felicidade é um crediário nas casas Bahia", "Comer tatu é bom/Que pena que dá dor nas costas", "Um tanto quanto másculo, com M maiúsculo, vejam só os meus músculos que com amor cultivei...", e muito mais...
    De julho de 1995 a março de 1996 o Brasil viveu a "mamonasmania". Foram 7 meses de contagiante alegria, os maiores contagiados? As crianças (e eu era uma delas)! Os Mamonas Assassinas misturavam em suas canções: rock, pagode, forró e até música tradicional portuguesa (o vira). Apresentavam-se fantasiados: coelhinhos, batman e robin, irmãos metralhas... enfim, roupas coloridas, perucas, chapelões grandes e engraçados e além disso, sempre havia uma coreografia. Esse jeito irreverente cativava as crianças, todas queriam imitá-los e as canções eram fáceis de decorar.
    Através das canções dos Mamonas, as crianças podiam cantar os palavrões que aprendiam e diziam baixinho (longe dos ouvidos de seus pais), os pais não davam bronca, não levavam a "malcriação" a sério, era brincaderinha... As crianças estavam livres para fantasiar, brincar sem censura, desenvolver uma malícia inocente, não tinha maldade, era só diversão: um pouco de malícia não faz mal a ninguém... Os pais não podiam dimensionar o quanto seus filhos afeiçoavam-se há esse bando de garotos fanfarrões.
    Na noite de 02 de março de 1996, o jatinho com os cinco rapazes de Guarulhos, dois assistentes da banda, piloto e co-piloto chocou-se na Serra da Cantareira. A notícia da morte prematura dos Mamonas chocaria o país no dia seguinte. Muitas pessoas não quiseram acreditar, esperavam ser uma brincadeira de mal gosto... Infelizmente, não era mentira: os Mamonas Assassinas passaram por aqui tão rápidos como um cometa.
    Muitas crianças aprenderam ali o significado da palavra morte, tiveram o primeiro contato com a sensação de dor e perda de pessoas queridas, afinal, eram eles uma espécie de irmão/primos mais velhos que nos ensinavam a fazer traquinagens. Muitos pais tiveram que ensinar seus filhos a lidar com o sentimento de tristeza, tiveram que encontrar uma maneira de explicar que seus ídolos não faziam mais parte desse plano. O Brasil parava para chorar a morte de jovens tão cheios de vida. É sempre assim, a morte de ídolos no auge da carreira, com tão pouca idade é capaz de comover um país inteiro. Os pais dessa geração perceberam então, que Mamonas Assassinas foi a brincadeira mais séria que tivemos contato.
     Com os Mamonas aprendemos que crianças não são tão inocentes assim, que de vez em quando falar um ou dois palavrões não é pecado, que debochar na dose certa não é maldade, que podemos rir do que nos parece um pouco nojento ou ridículo, que cantar umas besterinhas de vez em quando é bom para espalhar o riso, que cometer um errinho de português de vez em quando pode ser divertido, que não devemos levar os problemas tão a sério, que diversão é fundamental, que ter um pouco de malícia (sem maldade, sem exagero) não faz mal a ninguém, que é gostoso espalhar alegria e que dançar, cantar e falar bobagens com os amigos é mais do que fundamental!
    Faz 15 anos que Dinho e companhia nos deixaram para ir alegrar outro lugar, talvez tenham ido brincar nos "campos do Senhor"... vai saber? Cada um acredita naquilo que lhe conforta. Nenhuma banda será como eles foram, tão meteórica - 15 anos depois, nossa geração, deve ainda colher o legado que nos deixaram: irreverência e alegria sempre! Salve Mamonas Assassinas...



                                                                                                                  Natália Chagas


25 de janeiro de 2011

Salve Maestro Soberano


      À 25 de Janeiro de 1927 nascia o carioca que maestrou a música de nosso país: Antônio Carlos Jobim, nosso Tom Jobim, nosso maestro soberano, o tom de nossa música.
      Tom tentou ser arquiteto, mas não terminou a faculdade... as teclas do piano, a boêmia, as partituras, as regências, a poesia embutida nas letras das canções, as mulheres (musas inspiradoras de suas composições), enfim... a Música lhe chamava, precisava ele cumprir seu destino para a maestria.
      Em 1958, o Brasil conhecia a canção Chega de Saudade, composição de Tom e Vinicius de Moraes lançada no 1º compacto de João Gilberto: nascia então a Bossa Nova! Que belas parcerias Tom fez em sua estrada: o poetinha Vinicius, o "desafinado" João Gilberto, Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina... tantos outros compositores, letristas, musicistas, poetas, cantores e cantoras que aqui não cabem, mas que compartilhavam um pouco de sua genialidade. Tom gravou até com The Voice (Frank Sinatra) a versão em inglês de sua celebre Garota de Ipanema.
      Se estivesse vivo, Tom completaria 84 anos! Só temos que agradecer pelo seu 84º aniversário, afinal, nosso maestro nos mostrou muita coisa boa: foi ele que nos fez deleitar o fino da bossa, a cantar a felicidade, a apreciar as águas de Março, a descobrir que amor só é amor se for em paz, a relembrar os anos dourados, a ouvir um bom bolero, a cantar uma moça bonita, que brigas não devem existir nunca mais, que canções podem ser para eternas despedidas ou para amores demais, a dizer para saudade, chega!, a ver a beleza de quando se está chovendo na roseira, a querer passear em Copacabana ou no Corcovado, que a primavera pode ser derradeira, que podemos cantar desafinado, que dizer adeus às vezes é preciso, assim como dizer que eu sei que vou te amar, é... falando de amor, é preciso dizer eu te amo!, no fim de um romance, admirar as fotografias, soltar frases perdidas!
      Tom nos mostrou que: o balanço de uma mulher a caminho do mar pode ser eternizado, que podemos ter incerteza ou insensatez e acabar tudo num lamento!, que milagres e palhaços cabem em uma canção, já sabia ele que o morro não tem vez, que amanhã sempre haverá um samba e que na Mangueira tem espaço para um piano, pois é... por causa de alguém podemos pular carniça ou quebrar pedra e depois disso, colecionar sonetos e retratos em branco e preto que maltratam o coração, que ouvir sabiá é muito bom, que há rocknália e samba de uma nota só, há também samba do avião, samba torto, sambinha bossa nova e que samba não é brinquedo não!, que às vezes achamos que só podia ser com você, mas acabamos em solidão, acabamos sentindo tristeza, mas mesmo triste a turma do funil não para! Tom nos contou que há coisas que só o coração pode entender, assim como que para todas as mulheres se faz um canção...


Salve maestro! Como seria bom se todos fossem iguais a você...