10 de novembro de 2011

USP - Era dos extremos

     
    A principal universidade do país vive hoje a era do extremos! Os radiciais estão em ambos os lados, e a democracia passa longe... O debate (se é que ele existe) é cego, surdo e burro! 
     Entrei na USP em 2005, mais exatamente no curso de Letras - isso aí, sou FFLCH e com muito orgulho! Na primeira semana de aula, a chamada "calourada" nos mostra como aquele universo é novo, quantas ideias novas, quantas visões diferentes você passa ter... Nessa semana também, o pessoal do centro acadêmico tenta recrutar "novos camaradas" para a sua trupe. Confesso, que no meu 1º ano de faculdade, eu acreditava no movimento estudantil, assistia as assembleias dos estudantes, havia o estímulo ao debate político. Debate político é importante, mas é fundamental que nele estejam presentes todos os lados: direita, esquerda, centro, em cima do muro - ouvir só um lado, nos leva a estupidez... Com o tempo, você vai desenvolvendo o senso crítico, amadurecendo a sua capacidade de  selecionar o que você ouve, e percebe que nem tudo é como o movimento estudantil quer pintar. 
    Lembro de uma vez, que de uma assembleia na Letras o pessoal partiu rumo à administração da FFLCH, para invadir uma reunião que lá acontecia (sobre a parceria com o Santander, e os diplomas para o ensino de espanhol). Os motivos para essa "invasão" me pareciam plausíveis, concordava que esse assunto devia ser debatido e melhor esclarecido para os alunos... Fui atrás dessa passeata: um misto de apoio, um misto de curiosidade para ver no que dava, como funcionavam essas ações... E quando o fato se deu, bem... senti vergonha! Uma das meninas subiu em cima da mesa, e foi lá apontar o dedo na cara do Gabriel Cohn (diretor da FFLCH), nada do debate importante que havia acontecido na assembleia foi falado lá, o que se via era um circo armado dos alunos para debochar e questionar a autoridade do Cohn! Nunca fui fã dele, mas aquelas cenas foram desnecessárias... e foi aí, que comecei a me decepcionar com o movimento estudantil na USP.
    Eu acho importante a existência de um movimento dos estudantes, eu acho que é papel do estudante de uma universidade pública procurar o debate, trazer questionamentos para a sociedade, eu acho que é papel dos estudantes protestar e lutar pela melhoria do ensino público em nosso país, pela contratação de mais professores (e que eles tenham melhores salários, investimento em sua formação e plano de carreira), pela melhoria na estrutura física na universidade, pela melhoria dos cursos e de sua grade curricular, pelo incentivo à pesquisa acadêmica e às publicações, acho importante fazerem marchas contra a corrupção, contra a violência, etc. Mas ao mesmo tempo, eu acho que o movimento estudantil não deveria estar ligado à partidos políticos, ser bancado por partidos políticos, levantar bandeira de partido político... Dessa forma, o foco acaba sendo perdido, debates que não condizem com os interesses da universidade começam a surgir e o que é realmente importante é deixado de lado, e vi isso acontecer muitas vezes... Convocam assembleia para discutir coisas importantes e o que acabava acontecendo? Briguinha partidária!!! Já apoiei muita greve, hoje, não apoio mais, porque acredito que ela não leva a lugar nenhum. Nada se ganhou...
   No que diz respeito a última invasão da reitoria: Não gosto de ver as generalizações que vêm ocorrendo, não gosto de ver gente que não entende o processo direito falando mal da USP e todos os alunos sendo tachados de "playboy", "filhinhos de papai", "maconheiros", "baderneiros", e de todo espetáculo midiático em torno do caso... Mas também não aceito que o pessoal que invadiu a reitoria se coloque de vítima, mocinhos da história. Não há mocinhos e não há vilões!!! Da mesma forma que os estudantes são generalizados, os policiais militares e os contrários aos protestos, são generalizados pelo movimento estudantil... Pois é assim que o movimento pensa: "se não estão do nosso lado, são reacionários e estão errados". Nem todo estudante  que participa de protestos, que questiona a USP e o governo é rebelde sem causa, da mesma forma, nem todo político e nem todo PM é corrupto, arbitrário e violento!
    O pessoal que invadiu a reitoria merece sim ser punido, eles não estão acima da lei, os fins não justificam os meios - aquilo não foi manifestação, foi baderna, palhaçada! Invasão é crime! Esses alunos se portaram como uma gangue, como bandidos. Eles podem até ser contrários a presença da PM no campus, mas se querem manifestar-se contra, que o façam por outros meios! Procurem meios inteligentes de serem ouvidos, invadir reitoria só depõe contra eles próprios, dessa forma nunca terão o apoio da sociedade. Atitudes como essa só levam à repulsa... Eles alegam que a PM não vai aumentar a segurança, pode até ser, mas quem pode afirmar que não vai? E por que a presença da PM no campus vai contra a autonomia universitária? Não, não estamos na ditadura - época em que a polícia ficava na sala de aula controlando o que o professor ia ensinar... A mídia é manipuladora? Sim, mas muitas vezes, as ações dos estudantes dão respaldo para que isso aconteça. Não ter apoio da sociedade não é culpa do que a mídia diz a respeito dessas "manifestações"...
    A PM comete abusos, é violenta? Sim, mas o movimento estudantil também é... A PM agrediu alguns alunos sem justificativa? Sim, mas alguns policiais também foram agredidos por alunos de forma gratuita, os próprios alunos também se agridem... afinal, querer bater em colega só porque ele não quer apoiar a greve e quer entrar em sala para assistir aula, é o que?
   Os alunos querem diretas para reitor, concordo! Os alunos querem que a USP seja democrática, concordo! Os alunos querem ser ouvidos, opinar, concordo! Mas eles também devem aprender democracia, e a ouvirem opiniões adversas. Movimento estudantil da USP, vocês também não são democráticos, a esquerda nunca quer ouvir a direita, a direita nunca vai respeitar a esquerda - e quem perde com isso é a Universidade!
    Me formei na FFLCH, não sou de esquerda, não sou comunista, não sou de direita, não sou de partido político nenhum. Mas, sou a favor da PM no campus, sou a favor de democracia na USP, sou a favor de uma universidade pública voltada para a sociedade, voltada para todos! Quero que os radicalismos, quero que os extremos uspianos se extirpem, acredito que quando houver um diálogo equilibrado de todas as partes, a USP vai melhorar...