19 de junho de 2011

Ah, esse Buarque!



      O poeta, o boêmio, o malandro, o romântico: eis Chico Buarque, o conquistador! Que outro compositor entendeu tão bem a alma feminina? São tantas as mulheres de Chico: a vingativa, a inocente, a apaixonada, a amante, a esposa, a separada, a eterna namorada, a traída, a que traí, a amargurada, a dissimulada, a mãe, a prostituta... Qualquer garota ou qualquer mulher já se identificou com uma dessas personagens escritas e cantadas pelo poeta Buarque. A cada letra, a cada canção surge a estranha e pungente sensação: "foi assim que me senti", "é assim que me sinto", "é assim que eu queria falar", "era assim que eu queria agir"... a palavra cantada de Chico é a palavra sentida ou pensada de qualquer alma feminina.
      Como não se apaixonar pelo mais encantador, pelos olhos verdes desse de Holanda? É fato, em algum momento de sua vida uma mulher já se apaixonou perdidamente - para sempre ou por um segundo - por Chico Buarque, já quis se casar com ele: nossas avós, nossas mães, nossas amigas e até nós mesmas... O homem que quer entender uma mulher deveria escutar os bons conselhos que Chico lhes dá de graça, em suas canções...
     Chico Buarque, com "seus olhinhos infantis", completa hoje 67 anos de vida! Chico chegou para nós, como quem chega do nada, com um jeito manso que é só dele e se instalou feito um posseiro dentro de nossos corações. Ele nada nos perguntou, apenas nos leu, apenas nos entendeu e traduziu nossas almas nas letras e nas canções... sem rodeios, Chico Buarque quase nos mata de tanto amar!

Obs: dedico esse post para minha mãezinha, que colocou esse poeta Buarque em minha vida!

10 de junho de 2011

Um cantinho, um violão – 80 anos de João Gilberto

     
      João Gilberto – o pai da Bossa que não é mais nova  – completa 80 anos. Nasceu em Juazeiro, indisciplinado, talvez com um comportamento anti-musical, queria ser crooner, foi para o Rio de Janeiro e lá sua patota era formada pelo Maestro Soberano, pelo Poetinha, pela Divina e uns outros universitários da classe média que só queriam saber de fazer música: nascia a Bossa Nova. 
      Sisudo, gênio controverso, ame-o ou odei-o! Musicalmente perfeccionista... Ar-condicionado não pode; barulho também não; longe com os engenheiros de som e mixagens; que as distorções passem longe;  João canta baixinho, tem uma batida diferente no violão, não falem em seu show... Não tem discussão: ele vai parar tudo, vai se levantar e partir com sua música.
      Arrogância, loucura, capricho de um músico único e genial? Vai saber...
     Já diria Sérgio Cabral "nenhuma figura da música popular brasileira esteve tão perto da perfeição". É... isso é João Gilberto, isso é bossa-nova, isso é muito natural. Ele pode desafinar na relação com a imprensa e com o público, ele pode! Seus "maus modos" são perdoados quando sua voz e o violão tocam nossos ouvidos: um som, uma musicalidade sofisticada e graciosa. Sim, meus caros, no peito de João Gilberto também bate um coração, ele é o fino da bossa!

19 de abril de 2011

Você precisa ouvir aquela canção do Roberto!



     
      Que me perdoem os chatos de plantão, mas Roberto Carlos é fundamental! Cresci ouvindo as canções do Roberto e não me canso de ouvi-las... acredito que seguirei ouvindo, ouvi-lo é uma daquelas coisas que se passa de mãe para filha. 
      Roberto Carlos completa 70 anos de vida e já completou 50 anos de carreira! Nesse ano já foi até enredo de escola de samba, e ano após ano mantém seu status de rei de nossa música. Há pessoas que não escutam suas músicas, há os que julguem as suas canções pobres ou bregas, há os que dizem que ele faz há anos o mesmo show, as mesmas músicas, que não se renova... respeito a opinião, mas sinceramente, se tratando de Roberto Carlos isso é besteira.
      Ele foi o rei da Jovem Guarda e namorou esse tal de rock'in'roll... era uma brasa, mora? Teve mil garotas e fez o tipo lobo mal, ele foi o tal! A onda do iê-iê-iê foi passado e o lado romântico de Roberto Carlos florescendo. Em 1968, Roberto foi passear lá na Itália apresentado a canção Canzone per te no festival de San Remo e muita gente, do lado de cá ficou enciumada. É, muita gente falou mal de RC, criticavam o cantor popular que estava nascendo.
      Roberto Carlos virou rei! Ou será que já era? Difícil dizer quando ele virou majestade, acho que foi rei desde sempre... E o pessoal da música "cabeça", "engajada", "erudita" teve que engulir a seco o fato de que, no Brasil, um rei é posto no trono pelo povo. E ano após ano, o trono desse rei que gosta de trajar azul está garantido. Tem-se que tirar o chapéu, aqui, manter-se nesse posto por tanto tempo é algo para poucos. Nosso rei tem fãs de todas as idades, de ambos os sexos, de todas as regiões, com todos os sotaques, de todos os credos, de todas as classes sociais... Roberto Carlos não divide tribos, tem para todos os gostos! RC compôs canções bregas?! Sim, é claro... não gosto da fase das mulheres: de 40, de óculos, baixinha, gordinha... nem de concâvo ou convexo! Mas que se faça justiça, há lindas e lindas canções de amor. Os amores de Roberto são muitos, de todos os tipos também... O amor de filho para mãe, de amigo para amigo, amores vividos, amores sonhados, amores companheiros, amores traídos, amores ressentidos, amores perdidos, amores que já estão em outro plano. E, por mais que você relute, uma dessas canções vai tocar seu coração.
      Sou fã de Roberto Carlos, não tenho vergonha nenhuma em assumir... Não perco o especial de final de ano por nada nesse mundo, e choro, choro, choro... todas as vezes. É, ele é desses cantores que tocam nossa alma, com letras que traduzem seus sentimentos, coisas que se queria dizer para alguém... É o popular, com os sentimentos mais profundos que se pode ter! Gostanto ou não... reverencie, ele é o rei!
     
    

16 de abril de 2011

Me lembrou Carlitos...






      A Comédia, segundo Aristóteles, trata dos homens inferiores, isto é, trata de homens comuns (questões do dia a dia, rotineiras) ao invés de tratar sobre os deuses. Aristóteles não poderia prever que séculos depois o mundo ganharia um Deus da Comédia. Um homem comum que fez do gênero cômico uma arte elevada, um homem que tornou-se um dos mais aclamados atores e cineastas da História. Esse deus atenderia pelo nome de: Charles Spencer Chaplin.
      Charles Chaplin ficou famoso pelo seu personagem principal: The Tramp, ou Charlot, ou Carlitos, ou O Vagabundo. E que vagabundo mais adorável o cinema nos deu! O andarilho mais gentleman de todos os tempos, trajava um fraque preto (todo surrado), calça larga demais para seu corpo, sapatos gastos e grandes demais, um velho chapéu-coco, uma bengala e usava um bigodinho, além de ser dono de um andar todo seu.
     Chaplin nasceu em 16 de abril de 1889, em Londres e estaria celebrando 122 anos de vida. Em 1913 muda-se para os EUA onde inicia sua carreira no cinema. No começo, Chaplin que havia crescido no teatro vitoriano, teve dificuldade para adaptar-se a esse meio. Com o tempo, ele mesmo dirigiu e produziu seus filmes e assim, dominou a 7ª arte como ninguém. Charles foi deixando o pastelão de lado e introduzindo sentimentalismo ao gênero. A comédia de enganos, o personagem que gozava dos outros e dava-lhes pontapés e tijoladas também foi ganhando emoção, afeto e uma dose de pathos. Seus filmes, em um timing perfeito, nos causam o riso e o choro, a alegria e a emoção. Que outro vagabundo poderia ter causado mais afeto em seu público? Havia também um tom de crítica em seus filmes, crítica à modernidade e aos regimes ditatoriais.
      O país em que se consagrou artisticamente, tratou-lhe mal. Na era do macarthismo foi acusado de atividades anti-americanas, incluido na lista negra de Hollywood. Muito disso foi causado pelas especulações e boatarias da chamada impressa-marrom. Em 1952 o visto de emigração de Charles Chaplin foi revogado pelo governo americano, que se aproveitara de sua viagem ao Reino Unido para divulgação de um filme. Chaplin, então, exila-se na Suíça.
      Vinte anos depois, Carlitos retorna aos EUA para receber um Oscar Honorário e foi ovacionado em pé por cerca de dez minutos. Será que nesses aplausos, havia um certo pedido de perdão por parte daqueles que lhes viraram as costas anos antes? O olhar de Chaplin, embaixo do telão que exibia imagens de seus filmes, assistindo a essa homenagem com os olhos marejados é algo marcante. Nessa época sua saúde já ficava debilitada e cinco anos depois, aos 88 anos, em uma noite de Natal as cortinas do mundo fecham-se para ele.
      Chaplin jamais será esquecido, seu clássico andarilho será eternamente lembrando, assim como seus clássicos filmes: Vida de cachorro, O Garoto, Pastor de almas, Em busca do ouro, Tempos modernos, O grande ditador, O circo, Luzes da cidade e Luzes da ribalta, Um rei em Nova York, etc. As canções de seus filmes também sempre embalarão nossos corações.
      Chaplin nos ensinou muitas coisas, e principalmente, nos ensinou que apesar de todas as adversidades nunca deveremos deixar de sorrir. Como não abrir um sorriso com Carlitos? Obrigada por tudo Sir Charles Chaplin!

2 de abril de 2011

Dia do livro infantil - Hans Christian Andersen






      O escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen, completaria 206 anos de vida. Obviamente, nenhuma pessoa chega com vida nessa idade, mas a sua obra e o seu legado sim. Grandes escritores tornam-se imortais através de sua obra.
    Andersen é um dos principais nomes da literatura infantil, sua obra tem encantado crianças de todo o mundo através do decorrer da História. Entre suas mais famosas obras estão: A princesa e a ervilha, A pequena vendedora de fósforos, A roupa nova do rei, A polegarzinha, O soldadinho de chumbo, O patinho feio e A pequena sereia.
    O escritor nasceu em uma família muito pobre, mas a vida humilde que levou não o impediu de criar histórias ricas em imaginação e valores. Foi ele a primeria voz a criar doces histórias para as crianças. Sim, Andersen criava histórias como ninguém havia feito. Antes a literatura destinada ao público infantil e juvenil era feita por compiladores (como os irmãos Grimm), isto é, pessoas que registravam contos e histórias populares, e os reuniam em livros.
    A magia dos contos de fadas, sobretudo, dos contos criados pelo autor aqui homenageado está no fato de eles serem atuais e, ainda mais, nos mostram que a fantasia pode educar. Sim, as lições passadas nesses contos podem ser usadas em nossa atualidade.
     O conto do patinho feio, pode ser um dos primeiros registros de bullying. Um patinho que não se encaixava nos padrões dos demais, era rejeitado pela mãe, pelos irmãos, todos o maltratavam: chamavam-no de feio, o rejeitavam e o perseguiam. O conto também fala de superação, o patinho foge, procura um lugar em que seja aceito, vai crescendo, até encontrar um grupo de belos cisnes que o aceita, o patinho feio havia se tornado um belo e imponente cisne. A beleza nasce quando menos se espera, portanto, não desdenhe se não puder enxergá-la antes.
    Em a roupa nova do rei, Andersen abriu os olhos daqueles que são cegados pelo poder (opressor e oprimidos), desnudou a realeza e nos mostrou o quão puro é olhar de uma criança, único ser capaz de dizer a verdade sem temor.
    O amor e tudo que o cerca também esteve presente em seus contos: o amor sem final feliz entre O soldadinho de chumbo e a sua bailarina, o amor que depende de provas como em A princesa e a ervilha, o amor maternal e o amor que precisa lutar e reencontrar o ser amado estão em A polegrazinha e por fim, o amor incomensurável e de abdicações que encontramos em A pequena sereia.
    Que a data de hoje, seja sempre celebrada! Não apenas para lembrar Hans Christian Andersen, mas para celebrar todos os escritores de literatura infantil e juvenil. Todos aqueles que colocam o universo das crianças na ponta do lápis, tornando a fantasia, a imaginação, os sentimentos e as lições de vida coisas palpáveis. Que a literatura infantil mantenha sua qualidade, pois a formação das pessoas também depende muito do que leram na infância.


3 de março de 2011

O Carnaval, o samba e os desfiles - Homenagem aos sambistas e as escolas de samba

   Abram alas, o Carnaval chegou! Durante o período carnavalesco o Brasil será conduzido por uma orquestra de instrumentos de percussão: que venham os tamborins, os repiques, os tantãs, os surdos, os agogôs, as cuícas, os reco-recos, os chocalhos, pandeiros e tudo mais que gere um bom batuque e nos brinde com o melhor do samba e do samba-enredo. 
    Sim, no Brasil, Carnaval é o tempo sagrado para se ouvir um bom partido-alto, um samba de terreiro, samba-choro, um samba-canção, um samba-exaltação, um samba-de-breque,  um samba-enredo. O samba vem da Bahia, vem do morro carioca, vem da garoa paulistana, vem do fundo de um quintal... mas não podemos esquecer que sua raíz vem lá da África! Sim, o nosso Carnaval é o tempo de relembrarmos nossas raízes africanas e resgatar um pouco da nossa História. 
    As escolas de samba muitas vezes cumprem (ou pelo menos tentam) essa missão através de seus desfiles. O samba-enredo é um conjunto de letra e melodia que resumem um tema, ou seja, o enredo escolhido por uma escola de samba. As escolas de samba estão ligadas a história do carnaval carioca: em 1928, no berço do samba, nascia o bloco Deixa Falar (entre seus fundadores estava o grande Ismael Silva) que seria o esqueleto da nossa 1ª escola de samba: Estácio de Sá. Assim, novos blocos/escolas foram surgindo e disputando o carnaval com seus sambas-enredo. Foi na década de 1930 que esses concursos foram oficializados e que as escolas passaram a exaltar personagens e fatos históricos. Obviamente, a veracidade histórica dos enredos carnavalescos pode e deve ser contestada, pois baseiam-se em olhares folclorizados. Os enredos históricos começaram a ser cantados pela perspectiva do colonizador e depois dos colonizados (opressor versus oprimido): de um lado a camuflagem dos fatos da terra daqui, de outro lado o imaginário sobre a terra de lá - um festival de verdades míticas, um festival de mentiras históricas - mas, sempre rendiam uma boa letra de samba-enredo.  Hoje os sambas-enredo continuam com sua veracidade constestada, pois somarem-se os olhares dos coreográfos e cenógrafos que querem produzir um espetáculo apoteótico - os desfiles se renderam ao show-business - o Carnaval virou o maior evento da nossa cultura popular e da indústria cultural. É preciso ressaltar que os enredos são livres e não são só sobre a África, ou temas da História. Verdades ou mentiras, popular ou industrial o fato é que os desfiles do passado e os desfiles de hoje despertam grande fascínio.
    Estudos acadêmicos à parte, é necessário dizer que certas escolas de samba, toda vez que pisam na avenida provocam em muitas pessoas uma emoção inexplicável. Aliás, um bom samba é uma emoção inexplicável! É por causa do samba e das escolas de samba que gosto tanto do Carnaval.
   É emociante ver o azul e branco portelense tingindo a avenida, nesse momento mágico (dentro do coração de quem gosta de samba) sabemos que é a deusa do samba que está desfilando. O azul e branco também podem ser da escola lá da Vila, aquela que não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também. Pode ser também da magestosa e soberana, de fato, nilopolitana Beija-Flor. Quando as cores passam a ser o verde e rosa, temos a ciência que veremos a beleza de um cenário que a natureza criou - sim, é a Mangueira que chegou. E o vermelho e branco? Ah, pode ser a academia de samba que me faz feliz, salve Salgueiro! Pode ser também, o lugar onde podem matar-nos de amor... a escola de samba do largo do Estácio. Tantas cores, tantas histórias, tantos enredos, tantas melodias, tantas baterias - salve Tradição, Mocidade Independente de Padre Miguel, Viradouro, Unidos da Tijuca, Porto da Pedra, Caprichosos de Pilares e tantas outras...
   Ah, e nos desfiles não podem faltar a vozes potentes dos intérpretes de samba-enredo (puxador NÃO, como diria o grande Jamelão), o som do cavaquinho, as saias rodopiantes da ala das baianas, a encenação da comissão de frente e a elegância de um mestre-sala e sua porta-bandeira.
  Tirando os desfiles de carnaval e os sambas-enredo... Como é bom ouvir um bom samba e suas variantes. Sim, o carnaval é o tempo de lembrar que o samba vem do coração, que funciona como oração! 
  É Carnaval: Salve Ismael, Sinhô, Adoriran, Cartola, Noel, Candeia, Anicetos ( da Portela e do Império), Argemiro, Ataulfo, Casquinha, Dona Ivone, Dona Zica, Heitor dos Prazeres, João Nogueira, Jackson do Pandeiro, Jair do Cavaquinho, Jamelão, Jovelina Pérola Negra, Luiz Carlos da Vila, Manaceia, Monarco, Moreira da Silva, Bezerra da Silva, Martinho da Vila, Mestre Marçal, Nei Lopes, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Nelson Rufino, Paulo da Portela, Paulinho da Viola, Ratinho, Riachão, Silas de Oliveira, Tobias da Vai-Vai, Tia Eulália, Tia Doca da Portela, Tia Surica, Tinga, Walter Alfaiate, Zeca Pagodinho, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Noite Ilustrada, Elizeth Cardoso, Noca da Portela, Dorival Caymmi, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Teresa Cristina, Quinteto e Branco e Preto, Diogo Nogueira, Roberta Sá, Chico Buarque, Vinicius e Tom. Salve as velhas guardas: da Portela, da Mangueira, do Império... Salve Osvaldo Cruz e Madureira e todos os poetas da Praça Onze!
 Salve a todos que trazem o samba na alma e bom Carnaval!!!

2 de março de 2011

Mamonas Assassinas - 15 anos de saudade







    Utopia... Entre algumas definições desse verbete no Houaiss está: "projeto de natureza irrealizável; ideia generosa, porém impraticável; quimera, fantasia". Para muitas pessoas esse projeto irrealizável está em montar um banda (possivelmente de rock) e fazer sucesso.  
    Utopia foi o primeiro nome de uma banda formada por cinco garotos de Guarulhos, garotos que se apresentavam na periferia de São Paulo fazendo covers de bandas de rock. Entretanto, o tom sério do nome e os covers de "bandas sérias" não combinavam com o espírito brincalhão dos cinco integrantes, eles eram melhores fazendo performances engraçadas e paródias musicais. Utopia cedeu ao escracho, o irrealizável ia cedendo ao realizável e assim, nascia uma banda chamada Mamonas Assassinas.
    Em Julho de 1995, o Brasil passava a conhecer e a gostar de Bento, Dinho, Júlio, Samuel e Sérgio. Em pouco tempo as crianças, os jovens e os adultos passavam a cantar: "Roda, roda  vira, solta a roda e vem/Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém", "Mina, seus cabelos é da hora...", "Quanta gente, quanta alegria, a minha felicidade é um crediário nas casas Bahia", "Comer tatu é bom/Que pena que dá dor nas costas", "Um tanto quanto másculo, com M maiúsculo, vejam só os meus músculos que com amor cultivei...", e muito mais...
    De julho de 1995 a março de 1996 o Brasil viveu a "mamonasmania". Foram 7 meses de contagiante alegria, os maiores contagiados? As crianças (e eu era uma delas)! Os Mamonas Assassinas misturavam em suas canções: rock, pagode, forró e até música tradicional portuguesa (o vira). Apresentavam-se fantasiados: coelhinhos, batman e robin, irmãos metralhas... enfim, roupas coloridas, perucas, chapelões grandes e engraçados e além disso, sempre havia uma coreografia. Esse jeito irreverente cativava as crianças, todas queriam imitá-los e as canções eram fáceis de decorar.
    Através das canções dos Mamonas, as crianças podiam cantar os palavrões que aprendiam e diziam baixinho (longe dos ouvidos de seus pais), os pais não davam bronca, não levavam a "malcriação" a sério, era brincaderinha... As crianças estavam livres para fantasiar, brincar sem censura, desenvolver uma malícia inocente, não tinha maldade, era só diversão: um pouco de malícia não faz mal a ninguém... Os pais não podiam dimensionar o quanto seus filhos afeiçoavam-se há esse bando de garotos fanfarrões.
    Na noite de 02 de março de 1996, o jatinho com os cinco rapazes de Guarulhos, dois assistentes da banda, piloto e co-piloto chocou-se na Serra da Cantareira. A notícia da morte prematura dos Mamonas chocaria o país no dia seguinte. Muitas pessoas não quiseram acreditar, esperavam ser uma brincadeira de mal gosto... Infelizmente, não era mentira: os Mamonas Assassinas passaram por aqui tão rápidos como um cometa.
    Muitas crianças aprenderam ali o significado da palavra morte, tiveram o primeiro contato com a sensação de dor e perda de pessoas queridas, afinal, eram eles uma espécie de irmão/primos mais velhos que nos ensinavam a fazer traquinagens. Muitos pais tiveram que ensinar seus filhos a lidar com o sentimento de tristeza, tiveram que encontrar uma maneira de explicar que seus ídolos não faziam mais parte desse plano. O Brasil parava para chorar a morte de jovens tão cheios de vida. É sempre assim, a morte de ídolos no auge da carreira, com tão pouca idade é capaz de comover um país inteiro. Os pais dessa geração perceberam então, que Mamonas Assassinas foi a brincadeira mais séria que tivemos contato.
     Com os Mamonas aprendemos que crianças não são tão inocentes assim, que de vez em quando falar um ou dois palavrões não é pecado, que debochar na dose certa não é maldade, que podemos rir do que nos parece um pouco nojento ou ridículo, que cantar umas besterinhas de vez em quando é bom para espalhar o riso, que cometer um errinho de português de vez em quando pode ser divertido, que não devemos levar os problemas tão a sério, que diversão é fundamental, que ter um pouco de malícia (sem maldade, sem exagero) não faz mal a ninguém, que é gostoso espalhar alegria e que dançar, cantar e falar bobagens com os amigos é mais do que fundamental!
    Faz 15 anos que Dinho e companhia nos deixaram para ir alegrar outro lugar, talvez tenham ido brincar nos "campos do Senhor"... vai saber? Cada um acredita naquilo que lhe conforta. Nenhuma banda será como eles foram, tão meteórica - 15 anos depois, nossa geração, deve ainda colher o legado que nos deixaram: irreverência e alegria sempre! Salve Mamonas Assassinas...



                                                                                                                  Natália Chagas