25 de agosto de 2010

Meu malvado favorito e a literatura infantil

     




      De supervilão à superpai – essa é a trajetória de Gru personagem da animação Meu malvado favorito. Essa animação está conquistando crianças e adultos e tem sido um enorme sucesso de bilheteria nos cinemas. Além disso, é uma das animações mais engraçadas dos últimos tempos, além de muito inteligente.
      Gru que se considerava o mais malvado dos vilões tem que firmar esse status de maldade ao ver surgir um vilão concorrente, Vetor. Vetor é um vilão mais jovem e com recursos tecnológicos superiores aos de Gru que passa a ser considerado um vilão velho. Gru arquiteta um plano para roubar a lua e para isso ele conta com a ajuda de Dr. Nefrário e dos simpaticíssimos Mínions. O roubo da lua, entretanto, não é um mero ato de maldade em que o vilão trocaria a lua por dinheiro. Desde criança Gru sonhava em ir para lua, ele tinha sonhos que sempre foram ignorados por sua mãe, Gru cresceu sem demonstrações de afeto. O plano do vilão inclui a adoção de três irmãs orfãs: Margo, Edith e Agnes e é essa relação entre vilão e crianças que chama a atenção.
      Inseridas no universo de Gru essas meninas de alguma forma irão lapidar a sua vilania em paternidade: é uma relação de descoberta e aceitação. De um lado as três garotas aprendem a gostar do pai adotivo e que foge ao “modelo ideal” que tinham sobre pais. Elas aprender a amar um sujeito esquisito e que demonstra ser indiferente e cruel. Por outro lado Gru terá um primeiro contato com as relações de afeto e vai se descobrir como pai, capaz de se ligar aquelas crianças e amá-las – indo de vilão a herói.
      Mas a cena que mais me chamou a atenção foi esta: Gru está no quarto e vai ler um livrinho para as meninas, um desses livrinhos com fantoches e com uma frase por página. Então ele pergunta se aquele livro era realmente para crianças, julga que uma criança de três anos poderia ter escrito aquilo.
      Há muitos livros de literatura infantil produzidos atualmente que me causam essa mesma sensação: mas isso é mesmo para criança? O autor pensou em escrever para uma criança? Alguns livros estão infantilizados demais, é como se o autor quisesse ser mais criança que a criança. Alguns livros parecem subestimar a inteligência de uma criança...
      Infelizmente, a literatura infantil é mais vista ligada ao sistema educativo do que ao literário, e por esse motivo ela fica amarrada a ditadura dos temas transversais e ao politicamente correto. A formação do leitor e do que será o gosto literário se dá na infância e é fundamental que as crianças sejam presenteadas com boa literatura. A literatura deve educar? Acredito que a resposta é afirmativa, mas acredito também que a literatura infantil não se deve restringir ao cunho pedagógico, não deve ser apenas paradidática. Literatura também deve entreter, divertir, instigar a imaginação para além das questões da sala de aula, provocar experiências tanto no campo da linguagem quanto no campo dos sentidos. Literatura deve nos afetar, nos envolver, afinal literatura é formação! E por ser formação é muito triste quando vemos o mercado literário enchendo-se de livros com “pedagogia barata”, onde pouco se pensa na criança enquanto leitor e pensa-se apenas nas adoções que esses livros podem gerar... E assim a literatura infantil fica presa apenas à escola.
      Felizmente há no mercado editorial boas exceções. Exceções que existem também no cinema, sobretudo nas animações...
      Assistir ao filme Meu malvado favorito é um deleite, e é bom ver essa história contada também em livros, pois quem criou essa história respeitou a inteligência das crianças e conseguiu envolver os adultos.
      Quanto à função e rumos da literatura infantil e até da juvenil... bom, isso é discussão para vários post´s!


Dica: para pensar sobre a literatura infantil é legal ler O que é Literatura Infantil de Lígia Cademartori, Coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense.

 

23 de agosto de 2010

Minhas experiências

      Ensinar! Nunca pude imaginar o quão prazeroso é poder passar algum conhecimento para outra pessoa, mas desde a última semana venho experimentado essa sensação.
      Já havia dado aulas particulares de Literatura e Gramática para amigos, uma coisa bem tranquila e sem compromisso... Dessas experiências, nunca senti que estava ensinando, apenas estava ajudando.
      Durante a licenciatura em Letras tive oportunidade de estagiar em salas do ensino fundamental II ao médio e confesso que fiquei apavorada. A cada sala que entrava minha vontade era de sair correndo e um pensamento tomava conta de mim: Não quero dar aula, não quero me tornar professora.
      Sinceramente, ainda não quero... Mas confesso que pela primeira vez na vida fiquei feliz em poder ensinar alguém. É uma experiência de trabalho, uma espécie de treinamento. Estou ensinando um garoto que trabalha em outra área a lidar com as coisas que dizem respeito ao departamento em que trabalho. Se ele for bem poderá melhorar de cargo...
      Esse garoto desde que soube que aprenderia outra função ficou com um sorriso no rosto, um brilho diferente no olhar... Ele faz perguntas, ele anota, ele quer fazer sozinho, quer mostrar que aprendeu! Nunca havia visto alguém tão interessado em aprender, aprender com tanta vontade e dedicação.
      Toda vez que o treinamento acaba e ele sai da sala dizendo um "muito obrigado", sou tomada por uma enorme satisfação, uma satisfação de que fiz algo útil por alguém... Essas experiências ensinam aos que ensinam também.
      Espero poder sentir essa satisfação do ensino mais vezes, e espero que hajam muito garotos como esse. Garotos que ganhem uma oportunidade de aprender, agarrem essa oportunidade e cresçam!


Porque só o ensino pode renovar nossas esperanças!

27 de julho de 2010

Cinderela: Do conto ao Cinema


Que garota, durante a infância, nunca sonhou em se tornar princesa como Cinderela? Esse conto de fadas de uma forma ou de outra sempre estará presente em nosso imaginário. Da garota mais romântica à garota mais independente sempre haverá um espaço para essa história ser recontada e reinventada.

O conto que fala sobre Cinderela é um dos mais populares do mundo, sua origem é atemporal e há inúmeras versões da história. Há nessa narrativa muito mais do que uma trama romântica. Cinderela é possivelmente um dos arquétipos mais enraizados, narrados e recontados da cultura ocidental e insere seus leitores/espectadores na linguagem dos símbolos. Desta forma, o seu eixo dramático desenvolveu inúmeras outras obras da literatura ao cinema. As diferentes versões do conto acabam por renovar, em linguagem verbal ou não, esse conto de fadas onde há uma história de amor com final feliz, incluindo elementos, ou alterando os papéis temáticos das personagens.

Basicamente, o conto aborda virtudes como a beleza, bondade, amizade, paciência e esperança. Cinderela apesar de ter essas virtudes, perdeu a proteção dos seus pais e assim, fica privada dos direitos familiares. Cinderela funciona como um símbolo da mulher pobre que ascende socialmente através do matrimonio, pois sua beleza e bondade seduzem o seu príncipe/protetor.

A versão mais conhecida para o argumento de Cinderela é essa: "Um gentil homem viúvo e com uma filha casa-se com uma viúva com duas filhas. Uma vez dona e senhora da casa, a madrasta domina o marido e maltrata a enteada. As filhas da madrasta chamam-lhe Cinderela porque está sempre suja com fuligem da chaminé; no entanto, é elegante por natureza. Um dia o filho do rei decide fazer um baile para o qual convida todas as moças distintas da região, incluindo as duas irmãs. Sozinha e humilhada, Cinderela desata a chorar. Então aparece a sua fada-madrinha que, com a varinha mágica, transforma uma abóbora numa bela carruagem, os seis ratinhos em fogosos cavalos e os seis lagartos em criados. Por último, a fada transforma os seus trapos num magnífico vestido e as suas sapatilhas num par de sapatos de cristal. Antes de se despedir, a fada-madrinha recomenda-lhe que regresse antes da meia-noite. O príncipe passa toda a noite com Cinderela, mas a rapariga sai a correr sem se despedir quando ouve a primeira balada da meia-noite. O jovem segue-a, mas não consegue alcançá-la; na fuga, Cinderela perde um sapatinho. Poucos dias depois o filho do rei anuncia que se casará com a pessoa cujo pé sirva no sapato. Todas as donzelas da corte experimentam-no, mas ninguém o consegue calçar. Apesar da zombaria das duas irmãs, Cinderela consegue experimentar o sapatinho. Para espanto de todos, ela é a bela donzela que se casará com o príncipe."

O primeiro registro dessa narrativa é de 860 a.C. na China, onde havia o costume de enfaixar os pés das meninas, o que comprometia os seus movimentos e assim, sua autonomia. Os pés pequenos/atrofiados tornaram-se um símbolo de beleza. No ocidente a primeira versão que se tem registro é do italiano Basile em 1637, mas a primeira versão a ganhar fama foi a de Perrault. Perrault fez com Cinderela o mesmo que fez com outros contos da tradição oral européias, os adaptou para o gosto da corte do Rei Luis XIV: relatando um grande baile com vestidos belíssimos, penteados, muitos criados e introduzindo o elemento do sapatinho de cristal. Na versão de Perrault há espaço para o perdão concedido por Cinderela às irmãs. Já na versão dos irmãos Grimm além de não existir a figura da fada madrinha, há espaço para a punição, pois dois pombos picam os olhos das irmãs deixando-as cegas.

A fada madrinha é um personagem muito importante no conto. Recorrendo à magia ela transforma os objetos mais humildes em artigos de luxo. De certa maneira ela representa alguém de estatuto superior ao de Cinderela, e que se torna chave fundamental para a progredir na vida. Afinal, sem a ajuda da fada, Cinderela continuaria a ser pobre. Na ausência dos pais, a fada-madrinha representa uma entidade que protege e ajuda Cinderela, e em outras versões aparecerá representada de diferentes formas.

No cinema, a versão mais conhecida é a animação clássica da Disney, de 1950.

Versões do cinema:

Cinderela:
Titulo original: (Cinderella)
Lançamento: 1950 (EUA)
Direção: Clyde Geronimi , Wilfred Jackson , Hamilton Luske
Atores: Ilene Woods , Simone de Morais , Eleanor Audley , Tina Vita , Verna Felton
Duração: 74 min
Gênero: Animação

Cinderela (Ilene Woods) vive com sua madrasta, Lady Tremaine (Eleanor Audley), e as duas filhas dela. Obrigada a trabalhar como empregada da casa, ela tem como amigos apenas os animais que a rodeiam. O local em que vive está agitado devido ao baile que será realizado no castelo, o qual contará com a presença do príncipe (William Phipps). Como Lady Tremaine pretende que uma das filhas se case com ele, elas se preparam com requinte para o evento. Cinderela, entretanto, não pode ir. Até que surge a Fada-madrinha (Verna Felton), que dá a Cinderela um vestido e condições para que possa ir ao baile em alto estilo. Entretanto há uma condição: Cinderela precisa retornar antes da meia-noite, caso contrário o feitiço será desfeito.

Para Sempre Cinderela:
Titulo original: (Ever After)
Lançamento: 1998 (EUA)
Direção: Andy Tennant
Atores: Drew Barrymore , Anjelica Huston , Dougray Scott , Patrick Godfrey , Megan Dodds
Duração: 120 min
Gênero: Romance

Nesta versão a rainha da França chama os irmãos Grimm no palácio para dizer que aprecia muito a obra deles, mas que a história da Gata Borralheira não foi contada corretamente. Desta forma começa a narrar que sua tataravó Danielle ficou feliz quando o pai se casou novamente. Quando o pai falece, a madrasta e uma das irmãs revelam sua maldade, Cinderela conhece o príncipe, príncipe Henry, antes do baile. Não há fada-madrinha, mas a ajuda de Leonardo Da Vinci.

A Nova Cinderela:
Titulo original: (A Cinderella Story)
Lançamento: 2004 (EUA)
Direção: Mark Rosman
Atores: Hilary Duff , Jennifer Coolidge , Chad Michael Murray , Dan Byrd , Regina King
Duração: 96 min
Gênero: Comédia Romântica

Sam Montgomery (Hilary Duff) é uma jovem estudante do ensino médio, que vive com sua madrasta Fiona (Jennifer Coolidge) e as filhas dela, que a tratam da pior maneira possível. Sam leva uma vida sem grandes agitações e tem planos de cursar a Universidade de Princeton. Sua vida muda quando ela conhece, através da Internet, seu príncipe encantado. Porém logo Sam descobre que ele é na verdade Austin Ames (Chad Michael Murphy), um garoto popular que é também jogador de futebol americano do time de sua escola. Temendo ser rejeitada por Austin, ela passa a tentar despistá-lo de todas as formas, tentando manter em segredo a identidade da garota com quem ele conversou através da Internet.

Deu a Louca na Cinderela:
Título original: (Happily N'Ever After)
Lançamento: 2007 (Alemanha) (EUA)
Direção: Paul Bolger , Yvette Kaplan
Atores: Andy Dick , Sarah Michelle Gellar , Freddie Prinze Jr. , Lisa Kaplan , Patrick Warburton
Duração: 87 min
Gênero: Animação

Como está tudo programado no mundo dos contos de fada para que haja um final feliz, o Mago (George Carlin), responsável pelo equilíbrio entre as forças do bem e do mal, decide sair em férias. Ele deixa seus assistentes, Mambo (Andy Dick) e Manco (Wallace Shawn), cuidando de tudo. Porém um erro faz com que Frieda (Sigourney Weaver), a madrasta da Cinderela, tenha a posse do cajado mágico. Seu objetivo é tomar o controle do mundo de contos de fada, fazendo com que os vilões vençam e que os finais das histórias jamais sejam felizes novamente. Isto faz com que Cinderela (Sarah Michelle Gellar), mais conhecida como Ella entre os amigos, tenha que encontrar um meio de deter Frieda, contando com a ajuda de Rick (Freddie Prinze Jr.), Manco, Mambo e um exército composto de fadas e anões.

Versões indiretas do conto:

Sabrina:
Titulo original: (Sabrina)
Lançamento: 1954 (EUA)
Direção: Billy Wilder
Atores: Humphrey Bogart , Audrey Hepburn , William Holden , Walter Hampden, John Williams
Duração: 113 min
Gênero: Comédia Romântica

Dois irmãos pertencem à uma poderosa família, sendo um deles (Humphrey Bogart) é um empresário incansável e o outro (William Holden) é um playboy incorrigível. Mas quando a filha do motorista (Audrey Hepburn) retorna de viagem, após passar dois anos em Paris, o playboy se modifica e, como ela sempre foi apaixonada por ele, tudo seria muito fácil de acontecer. Mas se os dois se casarem um poderosa fusão deve ser prejudicada, assim o irmão empresário decide intervir e também acaba se apaixonando por ela.

Cinderela em Paris:
Titulo original: (Funny Face)
Lançamento: 1957 (EUA)
Direção: Stanley Donen
Atores: Audrey Hepburn , Fred Astaire , Kay Thompson , Michel Auclair , Robert Flemyng
Duração: 103 min
Gênero: Comédia Romântica

Um famoso fotógrafo de modas, Dick Avery (Fred Astaire), trabalha para a Quality Magazine, uma conceituada revista feminina. Dick cumpre as determinações da editora da revista, Maggie Prescott (Kay Thompson), que não está satisfeita com os últimos resultados e tenta encontrar um "novo rosto". Dick o acha em Jo Stockton (Audrey Hepburn), uma balconista de uma livraria no Greenwich Village onde um ensaio fotográfico ocorrera recentemente. Após certa resistência, Maggie aceita Jo como a modelo que irá à Paris para fotografar e ser o símbolo da Quality. Jo só concorda pois lá poderá conhecer Emile Flostre (Michel Auclair), um intelectual cujas idéias ela idolatra. Entretanto, ao chegarem em Paris as coisas não correm como o planejado.

Cinderela às Avessas:
Título Original: Maid to Order
Gênero: Comédia, Família
Direção: Amy Holden Jones
Elenco: Merry Clayton (Merry Clayton)Valerie Perrine (Georgette Starkey)Michael Ontkean (Nick McGuire)Dick Shawn (Stan Starkey)Beverly D'Angelo (Stella)Ally Sheedy (Jessie Montgomery)Tom Skerritt (Charles Montgomery)Begonya Plaza (Maria)Rain Phoenix (Brie Starkey)
Lançamento: 1987
Duração: 93 minutos

Menina, órfã de mãe, mora em Beverly Hills e é muito mimada pelo pai, que faz estranho pedido aos céus e muda a história da família.

Uma Linda Mulher:
Titulo original: (Pretty Woman)
Lançamento: 1990 (EUA)
Direção: Garry Marshall
Atores: Richard Gere , Julia Roberts , Ralph Bellamy , Jason Alexander , Laura San Giacomo
Duração: 119 min
Gênero: Romance

Magnata perdido (Richard Gere) pede ajuda uma prostituta (Julia Roberts) que "trabalha" no Hollywood Boulevard e acaba contratando-a por uma semana. Neste período ela se transforma em uma elegante jovem para poder acompanhá-lo em seus compromissos sociais, mas os dois começam a se envolver e a relação patrão/empregado se modifica para um relacionamento entre homem e mulher.

Cinderela Baiana:
Título original: Cinderela Baiana
Gênero: Comédia
Duração: 85min.
Lançamento: 1998
Direção: Conrado Sanchez
Elenco: Carla Perez, Alexandre Pires,Perry Salles, Lázaro Ramos

Carlinha, menina pobre, mora numa favela no sertão da Bahia. Ainda pequena perde a mãe, que morre do coração, e muda-se com o pai para Salvador. Na capital baiana, o pai torna-se advogado e Carlinha dança nas ruas com os meninos do Pelourinho, até ser descoberta pelo empresário inescrupuloso Pierre, que passa a explorá-la. Acaba atingindo a fama e encontrando seu príncipe encantado, um popular cantor de pagode.

Cinderelas, Lobos & Um Príncipe Encantado:
Titulo original: (Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado)
Lançamento: 2009 (Brasil)
Direção: Joel Zito Araújo
Atores: Joel Zito Araújo
Duração: 107 min
Gênero: Documentário

Cerca de 900 mil pessoas atravessam as fronteiras internacionais para atender ao mercado de exploração sexual. Apesar de todos os perigos, várias mulheres entram neste universo por acreditar que possam mudar de vida e encontrar um príncipe encantado.

***Esse texto foi produzido por Natália Chagas para matéria de Literatura Infantil e Juvenil I: Linguagens do Imaginário da Faculdade de Letras da USP. Matéria ministrada pela Profa. Dra. Maria Zilda Cunha.

*** Fontes:
. EDITORA PLANETA DEAGOSTINI. Cinderela. In: Bonecas de conto de porcelana.
. LEONEL, Maria Célia; NASCIMENTO, Edna M. F. S. CINDERELA NA LITERATURA E NO CINEMA. In: IV Congresso Internacional da Associação Portuguesa de Literatura Comparada. UNESP/Araraquara.
. MESSIAS, Érica Lara; MODA, Luana de Oliveira; GARCIA, Suzana Balbino Garcia. Dois sapatinhos e uma Cinderela: O diálogo entre o conto Cinderela e os filmes Cinderela e A Nova Cinderela. UNI-FACEF, Franca, 2007.

10 de julho de 2010

Meus textos - O narrador e a vida moderna aplicada à escola

      No ensaio intitulado O narrador, Walter Benjamin discute sobre a questão da narrativa e das experiências que são registradas ali, as narrativas são uma forma de registro da memória. Já em 1936, Benjamin previa que o advento da modernidade resultaria numa morte da narrativa, a sociedade baseada numa experiência coletiva estava em declínio, assim, o papel do narrador encontrava o seu fim na sociedade moderna.
      Hoje, 74 anos após, o texto do pensador alemão ainda suscita discussões e tais discussões, podem ser pensadas a partir de uma avaliação da educação nos tempos atuais. Há espaço para a narrativa no mundo contemporâneo, a narrativa ainda sobrevive de alguma forma?
      Benjamin, em seu texto, fala de “Erfahrung”, e esse termo alemão significa a experiência. Erfahrung não uma experiência qualquer, mas uma experiência que é fruto da tradição, formada como uma espécie de longa viagem e que leva tempo para ser sedimentada. Podemos dizer que é a experiência coletiva e se essa experiência sofre rupturas, se há redução nessa formação da tradição, então, a experiência dá lugar à vivência. Essa vivência é dada pelo termo “Erlebnis”, que representa a vivência individual, ou seja, a tradição ou a experiência coletiva sofre um empobrecimento.
      Essa transição da experiência para a vivência é uma transição do caráter coletivo para a personalidade. Em suma, a experiência que era pública tornou-se uma experiência que é particular. A modernidade deu espaço para a sociedade de produção de massa, as narrativas vão sendo tediosamente reproduzidas e assim, as informações não são mais pensadas.
      As informações não pensadas são um problema no âmbito escolar, ao que parece a escola não achou espaço significativo no mundo moderno. Os alunos parecem não entender o real papel da escola, não conseguem atentar para o conhecimento dos seus professores, e ao mesmo tempo, a escola parece estar alheia a essa ruptura que ocorreu. A narrativa, tal qual como concebida por Benjamin, isto é, como uma arte ou dom de se contar histórias perdeu o seu sentido hoje.
      As experiências passadas não são retidas pelos alunos de hoje, pois a educação também foi massificada. Antigamente, a escola era vista como formadora de seres pensantes, formava “homens”, formava cidadãos que conheciam e respeitavam as experiências dos mais velhos. Os alunos aprendiam com a História e com as histórias, eles a compreendiam, retiam e as narravam para os mais novos. Hoje a educação, ou melhor, o sistema educacional não se preocupa em formar pensadores, o sistema está preocupado com números. O conhecimento não é mais transmitido, mas sim, superficialmente repassado. O sistema apostilado é um claro exemplo disso, pois as informações são multifacetadas, “picadas” e não há aprofundamento algum no conteúdo das disciplinas. As informações passadas por esse sistema de ensino não permitem que os alunos façam correlações, e assim eles não podem pensar sobre o que esta sendo ensinado.
      A massificação da educação prejudicada a escola à medida que tira dos professores o papel e o poder da narrativa e tira dos alunos a capacidade de serem ouvintes dessas narrativas. Desta forma, a escola perde o seu sentido tanto para quem ensina quanto para quem é ensinado. E o local que deveria ser uma sede de transmissão do conhecimento dá lugar ao vazio, ao declínio do aprendizado. Esse declínio resulta em professores desestimulados, desiludidos com a atividade docente e em alunos desinteressados, indisciplinados e sem perspectivas de futuro.
      No entanto, todo o declínio ou todo fim dá lugar e espaço para o surgimento de uma nova era. A narrativa, tal como Benjamin a conheceu certamente morreu. No entanto, não devemos pensar a modernidade como um mal e sim como um espaço em que novas narrativas devem surgir. A sociedade contemporânea deve buscar uma nova forma de narrar, o narrador moderno talvez não esteja baseado no registro da memória, mas no registro de outros acontecimentos que nos cercam. A arte de narrar histórias, narrar experiências é uma arte que pode ser continuada, desde que encontremos uma formar de reinventá-la, devemos reciclar a narrativa.


BENJAMIN, W. O Narrador. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

18 de junho de 2010

Minha homenagem - José Saramago


      Hoje, 18 de Junho de 2010, a data de morte de José Saramago a literatura perdeu sua veracidade e o mundo uma visão crítica e reflexiva sobre os fatos e sobre a História. Ainda lembro do meu 1º contato real com a obra de Saramago, foi no 4º ano de faculdade. O curso era Literatura Portuguesa VI e a professora era Lílian Jacoto. Devido às greves na faculdade e há um novo calendário, passei todas as férias analisando a obra de Saramago a ser estudada: O ano da morte de Ricardo Reis. E que Janeiro foi aquele! Muitas e muitas páginas de uma literatura extremamente densa, mas que encheram os meus dias de um prazer inexplicável: Saramago me fez acreditar na literatura contemporânea...
      Antes de ler a sua literatura tão crítica e tão densa, suas palavras tão duras, brutas e belas acreditava que a narrativa estava morta, mas ao me deparar com Saramago a literatura voltou a ter um sentido para mim. Saramago me tirou da cegueira sobre a narrativa contemporânea. O autor, José Saramago, nos levava a refletir sobre a veracidade de tudo o que nós lemos durante nossas vidas.
      Comunista, ateu, crítico à Igreja Católica, leitor e crítico da sociedade... Saramago foi o escritor de língua portuguesa mais traduzido no mundo, levou a literatura portuguesa (e toda a produção literária em língua portuguesa) à um status nunca antes alcançado. Nossa língua mãe ganhou prestígio mundial com a obra de José Saramago. Ler Saramago é fundamental! Ele nos provou que a ficção é a melhor estância de compreensão do outro e que diante dos mistérios da escrita e da leitura, múltiplas verdades se contradizem. Assim, nada é absoluto, não há uma única verdade histórica ou literária, tanto a História como a Literatura estão sujeitas há uma cadeia de sobreleituras. A leitura torna-se então, uma labirinto onde o
ficcional e o real se chocam e se confundem, é uma relação balanceada de "verdades históricas" e "mentiras literárias". Saramago dizia que a morte era simplesmete a diferença entre estar aqui e já nao estar... Ele já não está mais aqui, e como lamentamos! Para mim há quatro grandes e "imortais" escritores portugueses que formam o canône da literatura portuguesa. Saramago foi compor essa constelação! Hoje no "Olimpo dos escritores portugueses" estão: Camões, Pessoa, Eça e Saramago... confundem e se encontram.

13 de maio de 2010

Minhas análises

Hoje, 122 anos da abolição da escravidão no Brasil, achei propício publicar a letra do samba-enredo da Vila Isabel de 1988 (centenário da Lei Áurea). Esse enredo deu o título para a Vila! E depois, segue uma breve análise sobre a letra, feita para meu projeto de Iniciação Científica em Estudos Comparados das Literaturas em Língua Portuguesa, sob orientação do Prof. Dr. Émerson Inácio da Cruz:


Kizomba, a festa da raça

Autores: Rodolpho, Jonas, Luiz Carlos da Vila

Valeu Zumbi!

O grito forte dos Palmares

Que correu terras, céus e mares

Influenciando a abolição

Zumbi valeu!

Hoje a Vila é Kizomba

É batuque, canto e dança

Jongo e maracatu

Vem menininha pra dançar o caxambu (bis)

Ôô, ôô, Nega Mina

Anastácia não se deixou escravizar (bis)

Ôô, ôô Clementina

O pagode é o partido popular

O sacerdote ergue a taça

Convocando toda a massa

Neste evento que congraça

Gente de todas as raças

Numa mesma emoção

Esta Kizomba é nossa Constituição (bis)

Que magia

Reza, ajeum e orixás

Tem a força da cultura

Tem a arte e a bravura

E um bom jogo de cintura

Faz valer seus ideais

E a beleza pura dos seus rituais

Vem a Lua de Luanda

Para iluminar a rua (bis)

Nossa sede é nossa sede

De que o "apartheid" se destrua

Valeu!


Análise: Kizomba, a Festa da raça*


A letra deste samba-enredo da Vila Isabel nos traz a representação de um negro que resistiu à escravidão; mais do que isso, um negro que não deixou de lutar contra o preconceito racial, que não perdeu a esperança por liberdade e igualdade. Essa representação se dá através de uma formação discursiva que nos traz enunciados que remetem a heróis e personagens marcantes da cultura negra do Brasil, como Zumbi dos Palmares, a escrava Anastácia e a sambista Clementina de Jesus. Há também a representação de elementos que compõe a cultura religiosa e festiva do negro: a kizomba, jongo, maracatu, caxambu, pagode, ajeum e orixás.

Há outras razões discursivas que devem ser levadas em conta no enredo da Vila Isabel. Em primeiro lugar, as razões históricas, pois em 1988 se comemorava os 100 anos da abolição da escravatura do país e marcava também a implementação da nova Constituição brasileira. A compreensão desses dados é uma chave para a análise deste samba-enredo. Kizomba funcionará como um signo linguístico que nos remete a uma festa de resistência cultural de um povo e que irá articular dois sujeitos: o histórico e o ideológico (negro como escravo, como subcidadão depois de liberto; o imaginário coletivo do negro e sobre o negro). Histórico porque faz referência a um estilo musical, a uma dança e festa que passaram a ser assim designadas na década de 80, em Angola, por grupos pertencentes às Forças Armadas pela Libertação de Angola. Vale lembrar que durante a formação do MPLA na década de 70 , um grupo de artistas brasileiros (entre eles Martinho da Vila e Chico Buarque) viajou à Angola e isso pode ter influência sobre o imaginário de "Kizomba". E ideológico porque engloba toda a congregação de povos que resistiram à opressão, a toda festa de um povo que resistiu bravamente à escravidão. A Kizomba de Vila Isabel configura-se no espetáculo do Carnaval carioca. O Carnaval é uma festa popular que atinge todo o povo, assim, a kizomba que a Vila diz ser "nossa Constituição" pressupõe a confraternização de todas as culturas, um símbolo pelo direito a igualdade de todas as raças.

Outra marca entre História e ideologia está na referência ao Apartheid. No trecho que diz "Nossa sede é nossa sede/De que o "apartheid" se destrua", a formação discursiva não nos remete apenas ao regime imposto na África do Sul desde 1948, que separava negros e brancos e que desqualificava o negro como cidadão, mas também nos remete à um apartheid simbólico que ainda separa o negro do branco. A construção desse discurso nos mostra que mesmo celebrando os 100 anos do fim da escravidão, mesmo que haja uma festa que congrace todas as raças, há ainda uma diferença de direitos, há ainda um preconceito implícito em todas as sociedades e que ainda precisa ser vencido.

"Kizomba, a Festa da raça" não é um samba ressentido, nem de protesto, mas um samba que apesar de celebrar tem uma pontuação crítica. Pode-se supor que o processo discursivo não tem um fim, está no domínio da antecipação. Na análise do discurso, o domínio da antecipação é o que dá abertura às relações discursivas, relacionando o domínio da memória com o da atualidade. Isso porque há interação entre o negro do passado com o negro para quem se canta, porque há uma ponte entre o negro herói, valente, mártir com o negro que, mesmo liberto, ainda tem que lutar por seus direitos, um negro que mesmo festejando ainda tem que destruir as separações raciais e sociais. Há a interação do negro narrado pelo discurso da História como o negro da realidade atual que ainda tem que construir uma nova História do seu povo. A kizomba da Vila Isabel construiu seu discurso na celebração de um negro que lutou e sofreu sozinho pela liberdade com a celebração de uma festa popular que pode alertar para que todas as culturas unam-se em busca do fim das diferenças.

* Por Natália Chagas, Letras/USP, 2009.


Hoje, 13 de Maio, não é uma data celebrada pelos negros... Os 122 anos do fim da escravidão não é mais muito falado, as discussões pertinentes à segregação racial passaram para dia 20 de Novembro. 20 de Novembro marca a data da morte de Zumbi dos Palmares, é o Dia da Consciência Negra.

Realmente, não há muito o que se comemorar em 13 de Maio... Mas não deixa de ser uma data para a reflexão... 122 anos do fim da escravidão, será? As diferenças sociais, as separações que o regime da escravidão causou no Brasil continuam gritando nos nossos porões...

122 depois, o Brasil ainda arrasta os seus grilhões... O mundo também arrasta, e continuará arrastando até perceber que a raça é uma só: Humana.


Natália Chagas F. S. Máximo

(descendente de alemães, portugueses, negros e muitas outras etnias, porque como dizia Cazuza "o meu sangue é negro, branco, amarelo e vermelho")




11 de maio de 2010

Minhas descobertas

Cursando disciplinas optativas no curso de Letras na USP encontrei uma nova paixão. As disciplinas a que me refiro são: Literatura Infantil e Juvenil: Linguagens do imaginário I e a III, ambas ministradas pela Profa. Dra. Maria Zilda Cunha. A disciplina I aborda as origens e formação do conceito de literatura infantil passando por fábulas, lendas e contos de fadas, já a disciplina III entra no campo da poesia brasileira.
Antes de iniciar o curso ouvi algumas críticas: diziam que havia muito seminário... Mesmo tendo pavor de apresentar seminários, resolvi cursá-la! Não me arrependi.
Simplesmente me apaixonei pelo curso! E quanto mais pesquiso, e quanto mais estudo... Sinto crescer em mim uma vontade enorme de me especializar nessa área. Será a decisão certa a tomar? Não sei, mas sei que quando após muita procura encontramos algo que nos desperte a vontade de mais e mais conhecimento, devemos investir. E é isso que pretendo fazer!
Essa paixão cresceu ainda mais durante as pesquisas para o seminário sobre contos de fadas e trechos significativos de filmes. Fiquei responsável pela Gata Borralheira, e um encantamento de infância ressurgiu como um toque de mágica feito pela varinha de condão. O resultado desses estudos, pretendo publicar aqui mais tarde... Por enquanto:
Era uma vez uma garota que uma vez num sonho descobriu que poderia trabalhar com a literatura destinada ao público infantil...





... Como vai terminar essa história?