20 de novembro de 2010

Apresentação no SIICUSP 2010, post em homenagem ao Dia da Consciência Negra






Minha pesquisa de Iniciação Científica na USP se intitula Literatura e Cultura popular: A representação de África nas letras de samba-enredo, e foi feita com orientação do Prof. Dr. Émerson da Cruz Inácio. A ideia para esta pesquisa surgiu através do contato com o samba-enredo Áfricas: do berço real à corte brasiliana apresentado no carnaval de 2007 pela escola de samba Beija Flor de Nilópolis. Esse enredo provocou debates na mídia e entre intelectuais sobre a forma como a África é representada nas letras de samba-enredo. Decifrar verdades e mentiras, mitos e história real tornaram-se uma necessidade, ainda mais levando-se em conta a lei 10.639 que determina o ensino de História e Culturas de base africana nos ensino fundamental e médio. A lei e o fascínio pela temática me mostraram o quão necessário era refletir sobre a influência da cultura africana sobre a cultura brasileira.

O primeiro passo para dar andamento a esta pesquisa foi encontrar sambas-enredo que tivessem a África e o negro como tema. Depois de enumerados esses enredos, definir um corpus a ser analisado e definir um eixo metodológico que fundamentasse essas análises. O corpus definido reúne letras de samba do carnaval carioca entre os anos de 1998 e 2008, onde foram analisadas oito letras de samba enredo. A análise foi fundamentada na análise do discurso francesa e na teoria baktiniana. Antes de dar inicio à análise dessas letras de samba enredo, foi necessário uma análise anterior. Uma análise de um samba-enredo que fosse emblemático acerca da representação de uma identidade africana no nosso carnaval e de onde pudéssemos basear a análise das letras do corpus selecionado. O samba-enredo utilizado para este fim foi Kizomba, a festa da raça com o qual a Vila Isabel ganhou o carnaval de 1988. Este enredo foi uma chave para as análises, pois foi um enredo que marcou os 100 anos da abolição do regime escravocrata no Brasil.

"Kizomba, a festa da raça - Rodolpho, Jonas, Luiz Carlos da Vila



Valeu Zumbi!

O grito forte dos Palmares

Que correu terras, céus e mares

Influenciando a abolição



Zumbi valeu!

Hoje a Vila é Kizomba

É batuque, canto e dança

Jongo e maracatu



Vem menininha pra dançar o caxambu (bis)



Ôô, ôô, Nega Mina

Anastácia não se deixou escravizar (bis)

Ôô, ôô Clementina

O pagode é o partido popular



O sacerdote ergue a taça

Convocando toda a massa

Neste evento que congraça

Gente de todas as raças

Numa mesma emoção



Esta Kizomba é nossa Constituição (bis)



Que magia

Reza, ajeum e orixás

Tem a força da cultura

Tem a arte e a bravura

E um bom jogo de cintura

Faz valer seus ideais

E a beleza pura dos seus rituais



Vem a Lua de Luanda

Para iluminar a rua (bis)

Nossa sede é nossa sede

De que o "apartheid" se destrua



Valeu!"

A letra deste samba-enredo da Vila Isabel nos traz a representação de um negro que resistiu à escravidão; mais do que isso, um negro que não deixou de lutar contra o preconceito racial, que não perdeu a esperança por liberdade e igualdade. Essa representação se dá através de uma formação discursiva que nos traz enunciados que remetem a heróis e personagens marcantes da cultura negra no Brasil, como Zumbi dos Palmares, a escrava Anastácia e a sambista Clementina de Jesus. Há também a representação de elementos que compõe a cultura religiosa e festiva do negro: a kizomba, jongo, maracatu, caxambu, pagode, ajeum e orixás.

Há outras razões discursivas que devem ser levadas em conta no enredo da Vila Isabel. Em primeiro lugar, as razões históricas, pois em 1988 se comemorava os 100 anos da abolição da escravatura do país e marcava também a implementação da nova Constituição brasileira. A compreensão desses dados é uma chave para a análise deste samba-enredo. Kizomba funcionará como um signo lingüístico que nos remete a uma festa de resistência cultural de um povo e que irá articular dois sujeitos, o histórico e o ideológico (Negro como escravo, como subcidadão depois de liberto; o imaginário coletivo do negro e sobre o negro). Histórico porque faz referência um estilo musical, a uma dança e festa que passaram a ser assim designadas na década de 80, em Angola, por grupos pertencentes às Forças Armadas pela Libertação de Angola. E ideológico porque engloba toda a congregação de povos que resistiram à opressão, a toda festa de um povo que resistiu bravamente à escravidão. A Kizomba da Vila Isabel configura-se no espetáculo do Carnaval carioca. O Carnaval é uma festa popular que atinge todo o povo, assim, a kizomba que a Vila diz ser “nossa Constituição” pressupõe a confraternização de todas as culturas, um símbolo pelo direito a igualdade de todas as raças.

Outra marca entre História e ideologia está na referência ao Apartheid. No trecho que diz “Nossa sede é nossa sede/De que o “apartheid” se destrua”, a formação discursiva não nos remete apenas ao regime imposto na África do Sul desde 1948, que separava negros e brancos e que desqualificava o negro como cidadão, mas também nos remete à um apartheid simbólico que ainda separa o negro do branco. A construção desse discurso nos mostra que mesmo celebrando os 100 anos do fim da escravidão, mesmo que haja uma festa que congrace todas as raças, há ainda uma diferença de direitos, há ainda um preconceito implícito em todas as sociedades e que ainda precisa ser vencido.

Kizomba, a Festa da raça não é um samba ressentido, nem de protesto, mas um samba que apesar de celebrar tem uma pontuação crítica. Pode-se supor que o processo discursivo não tem um fim, está no domínio da antecipação. Na análise do discurso, o domínio da antecipação é o que dá abertura às relações discursivas, relacionando o domínio da memória com o da atualidade. Isso porque há interação entre o negro do passado com o negro para quem se canta, porque há uma ponte entre o negro herói, valente, mártir com o negro que, mesmo liberto, ainda tem que lutar por seus direitos, um negro que mesmo festejando ainda tem que destruir as separações raciais. Há a interação do negro narrado pelo discurso da História com o negro da realidade atual que ainda tem que construir uma nova História do seu povo. A kizomba da Vila Isabel construiu seu discurso na celebração de um negro que lutou e sofreu sozinho pela liberdade com a celebração de uma festa popular que pode alertar para que todas as culturas unam-se em busca do fim das diferenças.

Após essa primeira análise, as outras letras foram analisadas separadamente e em cada uma delas buscou-se encontrar as depreensões que temos da África. Os sambas-enredo analisados foram: “Negra Origem, negro Pelé, negra Bené” (Caprichosos de Pilares); “Dom Obá II – Rei dos esfarrapados”, “Príncipe do povo” (Estação Primeira de Mangueira); “Liberdade! Sou negro, sou raça, sou Tradição” (Tradição); “Zumbi, rei de Palmares e herói do Brasil – A História que não foi contada” (Caprichosos de Pilares); “Agudás, os que levaram a África no coração e trouxeram no coração da África o Brasil” (Unidos da Tijuca); “Áfricas, Do berço real à Corte brasiliana” (Beija-Flor de Nilópolis); ‘Preto e Branco a Cores”(Unidos do Porto da Pedra) e “Candaces” (Unidos do Salgueiro). A finalidade dessas análises foi a de descrever a forma como a África é apresentada nessas letras, uma vez que majoritariamente tal visão apresenta um viés mítico e que não condiz com a realidade do continente. As análises feitas com base na análise do discurso francesa, analisou o discurso que “rege” o pensamento que o Brasil tem acerca do continente africano. Através das letras de samba-enredo buscamos elementos pertencentes à cultura e tradição africana e seus referenciais na cultura brasileira: alimentos, religião, tribos/povos, dialetos etc. Muito da história contada por essas letras é fruto do que muitos livros didáticos nos fizeram pensar até hoje sobre África. Muito, também, é pertencente ao imaginário popular dos descendentes africanos que têm em sua mente uma memória de África na qual não viveram verdadeiramente.

Para as análises, não foram usados apenas elementos referentes à análise do discurso, também nos pautamos em teóricos que realizaram estudos sobre cultura popular, história do samba no Brasil e sobre cultura afro-brasileira, tais como: Nei Lopes, Rogério Saturnino, José Ramos Tinhorão, Rodrigo Duarte, Raymond Williams, Alfredo Bosi, Peter Burke, Mikhail Bakhtin e Sérgio Cabral. Todos estes pensadores são importantes à medida que tecem reflexões sobre as culturas populares e suas influências na sociedade e literatura. Alguns deles funcionam como chave para entendermos o real significado dos termos tais como cultura, sociedade, discurso e literatura. Outros nos levam a pensar sobre a importância da formação da história do samba, do seu nascimento musical e na sua dança, pois são frutos da herança que a música e dança africanas deixaram em nosso país.

Ao observar a história do samba temos a confirmação de que o sangue que corre nas veias da cultura do Brasil é sangue genuinamente provindo da África ou, pelo menos afetivamente, tido como tal. Desta forma, deveríamos ter uma preocupação com uma abordagem mais realista da História Africana e não ficarmos nos embasando somente em histórias fantásticas da tradição oral, que muitas vezes podem induzir a um juízo falso sobre as culturas de base africana no Brasil. No caso, devemos pensar na associação entre os saberes populares e os cada vez mais crescentes saberes eruditos que têm sido construídos a respeito do continente negro. No entanto, a partir das análises realizadas, pensamos que talvez o fato de cantarmos apenas a África mítica e sonhada seja produto do espetáculo midiático. O mítico é muito mais interessante aos olhos encantados que acompanham o carnaval que necessariamente a história real.

Analisar as letras de samba-enredo não é uma tarefa fácil, pois primeiro temos que desautomatizar os olhares fantasiosos sobre o continente africano. Temos que partir do ponto de que a África cantada nos enredos carnavalescos é real apenas no tempo de duração dos desfiles, ou seja, neste período a ficção vira realidade na encenação que no desfile se realiza. Essa visão liberta torna-se difícil se pensarmos que até hoje o que nos é ensinado sobre África não é aprofundado e nem suficiente, já que em momento anterior a PEP 10.639, a África surgia apenas para nos mostrar de onde vinham os escravos trazidos ao continente americano e de onde as potências europeias tiravam tantas riquezas.

Outra dificuldade é que ainda há muito preconceito quando se trata de África e de cultura popular. Por outro lado, os estudos e análises sobre carnaval, samba e África despertam comentários muito “apaixonados” e instigantes. Quanto mais se estuda e descobre, mais surge à vontade de descobrir coisas novas e acrescentar novas pontuações à pesquisa. De um lado há quem diga que a História e as letras de samba-enredo mentem sobre a África; por outro, há quem diga que a própria tradição e imaginário africanos mentem sobre o continente negro. Verdades ou mentiras, a realidade é que essas questões hão de sempre despertar fascínio em quem as encara como objeto de análise e pesquisa.

As conclusões tiradas foram as de que podemos inferir que o samba foi se tornando uma espécie de sonho de liberdade para os negros daqui, que desconheciam a realidade africana passada e presente. Contar um pouco da história do samba no Brasil, das suas origens aos dias de hoje e assim discutir a nossa visão de África através do samba, contrastando-a com as imagens que comumente são representadas no material literário, se faz cada vez mais necessário, já que esses estudos permitem colocar lado a lado a África imaginária e a África real.

30 de outubro de 2010

Vetar Monteiro Lobato? Não!



    Em parecer do Conselho Nacional de Educação divulgado nesta semana, chegou-nos a informação de que o livro "Caçadas de Pedrinho" escrito em 1933 por Monteiro Lobato pode ser vetado nas escolas públicas. Depois de tantos anos querem censurar os escritos de Lobato! A alegação para o veto é de que a obra contém termos racistas... Será que se Lobato estivesse vivo iriam tentar prendê-lo por racismo?!
     Cresci lendo Monteiro Lobato, graças a Deus, a minha infância foi recheada pela leitura dos personagens que compunham o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Não me tornei racista e nem desenvolvi preconceitos. A obra infantil de Monteiro Lobato contribuiu para o desenvolvimento de minha imaginação, despertou curiosidades e sede de conhecimento. Foi à partir das histórias contadas através de Dona Benta e comentários do Visconde de Sabugosa que ganhei gosto pela Literatura e História (esse gosto também foi impulsionado por minha mãe e meu pai que sempre me encheram de cultura). Os "causos" contados por Tio Barnabé e as crendices de Tia Nastácia me deram gosto pela Cultura Popular. Os escritos de Lobato me impulsionaram à ler os contos de fada, Robson Crusoé, os livros de Julio Verne e muito mais. Lobato me fez gostar tanto de Folclore quanto de Mitologia greco-romana: sabia sobre Saci, Cuca, Iara, Curupira, Mula Sem-Cabeça e também sabia sobre Belerofonte, Pégaso, Quimera, Teseu, Ariadne e Minotauro. Além do conhecimento passado por meus pais, fui boa aluna, porque li Lobato, e muito.
    Esse veto é uma difamação da obra de Monteiro Lobato (se querem vetar "Caçadas de Pedrinho", também teriam que vetar outros títulos do autor) e desconsidera o tempo em que a obra foi escrita. Os termos usados por Lobato eram comuns, populares e não eram estigmatizados como termos preconceituosos. Quando ao descrever Tia Nástacia usava o termo "preta" não era com o propósito de discriminar a sua cor. Dúvido que alguma criança que tenha lido a sua obra e se deparado com esses termos tenha pensado "puxa, que texto racista", pois a obra deste autor está muito acima de terminologias. A capacidade imaginativa, a fantasia é que nos chamam a atenção. É a relação de carinho, verdade e magia que existe entre Dona Benta, Narizinho, Pedrinho, Emília, Tia Nastácia e Visconde de Sabugosa que é absorvida pelos leitores. Lobato é o maior escritor de nossa Literatura Infantil, pois como poucos soube usar a Literatura para entreter e ensinar, com Lobato se aprende ao mesmo tempo em que é permitido sonhar, imaginar. Naquele tempo o politicamente correto não ditava a Literatura Infantil e Juvenil.
    O Conselho de Educação deve se preocupar com questões de racismo e combater todos os tipos de preconceito, sim! Mas com certeza não é vetando uma obra de Monteiro Lobato que o farão... Aliás, Lobato faz muita falta na formação das crianças de hoje, acho que nas escolas públicas e particulares deveria haver mais Lobato e menos enrolação!

18 de outubro de 2010

Poesia da negritude moçambicana: antecedentes e desdobramentos






   A poesia moçambicana é caracterizada pela busca da construção de uma identidade nacional, não há uma identidade moçambicana preexistente, mas sim construída. Os poetas moçambicanos têm a plena consciência dessa construção que é formada pelos processos históricos, assim, a construção da identidade da negritude moçambicana é dada pelas experiências políticas e culturais pelas quais Moçambique passou.

   Antes de qualquer coisa, devemos refletir sobre o termo “negritude”. Esse termo começou a surgir no final da década de 30, na poesia de Aimé Césaire. Desencadeando um movimento de literário cultural de poetas negros que vivam na França. Em suma, um movimento que buscava resgatar a herança cultural africana, baseado no conceito de pureza étnica. Esse termo por ser polissêmico, acabou gerando diversas interpretações e críticas. Havia apoiadores e os opositores, que alegavam que esse movimento da negritude ao buscar a criação de uma identidade (sobretudo poética) sobre o que é “ser negro, ser africano”, estava ao final criando uma espécie de segregação, julgavam o termo preconceituoso. No entanto, esse movimento iniciado por negros que viviam na França, desencadeou movimentos da negritude em outros países.

   O surgimento do movimento em países de colonização portuguesa coincidiu com o ápice do regime salazarista acarretando em um silenciamento do movimento. Após os movimentos de libertação das nações africanas, a expressão “negritude” ganhou um novo fôlego, novos debates e significações e misturou-se a termos como: africanidade, angolonidade, moçambicanidade, etc. Enfim, nada além do que uma grande busca por encontrar uma forma de expressar a sua própria cultura.

   É nesse cenário, pós-independência que a poesia moçambicana começa a se revelar de forma mais expressiva. A independência de Moçambique e de outras colônias portuguesas em África fez com que surgisse uma necessidade de se criar identidades africanas, essas identidades deveriam mostrar um olhar propriamente africano perante o mundo. E em cada colônia a construção de uma identidade nacional se deu de uma forma diferente.

   Podemos dizer que, em Moçambique, os poetas que iniciaram a chamada segunda fase da literatura moçambicana, começaram a se revelar a partir de 1945. Noémia de Sousa é considerada uma das pioneiras da moderna poesia moçambicana, pelo sentido e nascimento de sua poesia, foi uma das primeiras poetas a protestar contra o sistema colonial. Denunciou as mazelas, as tragédias as quais os negros eram expostos e clamou por liberdade. Noémia evocava a “Mãe-África”, valorizando a cultura africana. Outra figura importante na poesia de Moçambique é o poeta José Craverinha, que possui um lugar central na literatura moçambicana. Se Noémia foi pioneira, Craverinha foi o poeta que realmente começou a dar formas para aquilo que se chamaria de identidade nacional moçambicana, foi o principal formador do discurso moçambicano.

   A poesia de Noémia de Sousa trata muito mais a questão negra/africana geral do que a questão moçambicana. Craverinha parte desse mesmo sentido, no entanto, é a sua poesia que vai se desenvolvendo para questões propriamente de Moçambique. Em sua poesia, José Craverinha, trata de questões sociais: relação empregador/empregado, subalternidade; imagem do colonizador e colonizado. Vale lembrar que o poeta é de origem portuguesa, mas cresceu em Moçambique e quando o país de tornou independente de Portugal ele optou pela cidadania moçambicana. Por isso, a questão da descaracterização portuguesa é outro grande tema de sua poética, em um dos seus poemas, dedicado ao seu pai essa imagem fica muito clara. “Ao meu pai...” se inicia com a figura do homem forte que era seu pai, um português puro, mas à medida que o pai adoece há uma descaracterização da típica figura do português, assim seu pai se “moçambiquiza” ao morrer. Desta forma, o que não se origina como moçambicano, pela memória vai se moçambicano. É uma memória criada, e essa memória inventada também é uma característica da poesia da negritude moçambicana.

   Obviamente, há outros importantes poetas na poesia de Moçambique, mas foram citados apenas dois exemplos para poder ambientar as características centrais dessa poesia. Há forte ligação política no processo de formação da poesia moçambicana que buscava criar sua identidade. As marcas deixadas pelo período em que Moçambique foi colônia portuguesa e a necessidade de se libertar desse período representa uma forte influência na poesia desse país. A poesia moçambicana ganha força na medida em que cresce uma necessidade de expressão, de expressar tudo o que havia sido silenciado pelos anos de opressão. A idéia sobre o que quer dizer “ser moçambicano” é pungente em todos os poetas, sejam eles ligados ou não às novas diretrizes políticas de Moçambique. Parece que a poética moçambicana é recheada de perguntas sobre sua história, formação e passado. Essas dúvidas são dissolvidas com respostas criadas, preenchidas com realidade e fantasia. Há caracterizado na poesia de Moçambique uma atitude “calibanesca”, atitude de apropriação do outro, uma apropriação das técnicas ocidentais para se encontrar uma forma de expressão particular. Talvez, a mais significativa característica da poesia da negritude moçambicana seja a eterna busca. Busca pela criação de sua identidade de “ser moçambicano”, e para eles não importa que essa identidade seja criada, imaginada ou inventada, desde que seja a identidade de Moçambique, desde que seja a sua expressão. Ser negro, ser africano, pelos parâmetros de ser moçambicano é uma incessante construção. A negritude moçambicana em sua poesia mostra que a identidade de um povo sempre estará em processo de formação, apropriada ou inventada, a formação de identidade nunca deixa de ser construída.




Bibliografia:

. LABAN, Michel. Moçambique, encontro com escritores. Porto: Fundação Engenheiro António de Almeida, 1998. V.1 (Entrevista com Noémia de Sousa).
. MACEDO, Tânia; MÂQUEA, Vera. Moçambique. In Literaturas de Língua Portuguesa: Marcos e Marcas. São Paulo: Arte & Ciência, 2008.
. SILVA, Manoel de Souza e. Do Alheio ao Próprio: A poesia em Moçambique. São Paulo: EDUSP, 2008.

15 de outubro de 2010

A ausência do pai simbólico em Ao Mestre com Carinho



   A questão da paternidade, ou melhor, da representação da figura paterna é muito forte em toda a obra freudiana. Freud discorre sobre as diferentes personagens paternas: o pai real, o pai idealizado e o pai morto, além disso, toda essa questão da representação do pai, segundo Freud, chega até a origem de nosso inconsciente sob a forma de processos psíquicos. Gita Wladimirski Goldenberg faz uso dessas teorias freudianas para discorrer sobre a ausência do pai simbólico em crianças e adolescentes. Goldenberg afirma que as infrações cometidas pelos adolescentes podem provir da ausência da lei paterna dentro de um lar. A partir desse gancho podemos fazer uma análise do filme Ao Mestre com Carinho.

   O filme Ao mestre com carinho, dirigido por James Clavell aborda como tema principal o papel da educação na formação do homem. O cenário para essa discussão é uma escola pública do subúrbio operário londrino na década de 60. O filme nos mostra o relacionamento de um professor negro e seus alunos, além de também falar sobre preconceito, violência, solidariedade, amadurecimento, etc. Sidney Poitier encarna o professor Mark Tackeray, um engenheiro desempregado que acaba por aceitar uma proposta de emprego como professor mesmo nunca tendo lecionado. Sua primeira experiência como professor é em uma classe de adolescentes rebeldes que estão para se formar e dar os primeiros passos na vida fora do âmbito escolar, sendo assim, seu desafio é fazer com que esses jovens tão rebeldes se interessem pela educação. Talvez, seja esse, o primeiro filme a retratar os desafios de um professor com uma típica classe de alunos desinteressados. Como toda “classe problema” há nesta turma do professor os adolescentes que simbolizam e lideram toda essa revolta, esses jovens são os personagens: Denham, Pamela Dare e Barbara Pegg. Denham é o típico aluno desafiador, tem a necessidade de se mostrar mais “homem” que o seu professor e sempre procura provocá-lo ou insultá-lo; Pamela é a garota popular e bonita, uma personificação da “lolita”. É a jovem que procurar ter uma atitude sensual, mas ao mesmo tempo deixa escapar uma certa fragilidade diante do mundo; Barbara Pegg é a garota que mesmo não sendo tão bonita, segue os modelos de ação de Pamela. Tanto nesses três adolescentes como em todo o restante da classe, percebe-se que há problemas com a figura paterna.

   Na realidade, para os adolescentes desse filme a escola era uma espécie de fuga dos problemas enfrentados em casa, desobedecer a figura do professor era uma forma de mostrar a sua revolta e de certa forma atingir a figura do adulto. A escola não aplicava nenhum tipo de castigo aos alunos o que propiciava essa atitude revoltada que tomavam, além disso, alguns professores não ligavam ou não sabiam lidar com os problemas dos alunos, um dos professores diz a Tackeray que “a educação nos dias de hoje é uma desvantagem”. O personagem de Sidney Poitier será o primeiro a perceber que esses jovens precisam de alguém que converse de igual para igual com eles, que lhes dê uma voz, mas que ao mesmo tempo imponha regras para que isso aconteça. E, ao notarem que o professor os trata de modo diferente, esses jovens irão passar a respeitar a sua figura. Um dos claros exemplos dessa mudança da forma de se enxergar o professor é a personagem Pamela Dare.

   Pamela Dare é filha de pais divorciados, seu pai foi embora de casa e ela vive com a mãe. A mãe não consegue exercer a função de representar uma figura de autoridade de respeito, pois ao passar a trazer outros homens para dentro de sua casa faz com que sua filha passe a lhe desrespeitar. Para não ter que ver a mãe namorando um outro, ela passa horas fora de casa sem dar a mínima satisfação à sua mãe. Vemos aí a passagem em que Goldenberg fala da ausência do terceiro na vida da criança/adolescente, a falta da participação ativa do pai acaba por refletir também a insuficiência da função materna. E é aí que o professor Mark Tackeray entra na vida de Pamela, de certa forma é ele quem irá exercer a função de impor as leis paternas. É ele o primeiro homem a tratá-la com respeito e a indicar-lhe como uma “moça decente” deve se portar. A própria mãe da jovem reconhece isso, e recorre ao professor para saber como lidar com sua filha e fazer com que ela haja de modo mais responsável e lhe diga por onde anda. O professor dá para Pamela e seus colegas uma oportunidade de agirem com adultos, ele impõe e mostra as leis de boa educação e comportamento, fala com eles sobre casamento, sexo, emprego, preconceito. Todos esses temas que ele debate com seus alunos nunca haviam sido tratados pelos seus pais, assim, o professor passar a ser a figura do terceiro na formação desses adolescentes. Ao perceber essa postura diferente do professor, Pamela passa a ter um outro comportamento e no lugar da jovem rebelde entra uma jovem preocupada com seu futuro e que demonstra a sua inteligência e coragem. No entanto, o professor desperta mais do que bom comportamento na adolescente, ela também desenvolve uma paixão por ele, assim, a admiração de Pamela pelo seu mestre atinge a estância do pathós. Desta forma, se o professor é para a jovem uma substituição da figura paterna, uma personificação do pai simbólico, é também a figura para qual ela repassa o amor do chamado complexo edipiano. Com a sua sensualidade dissimulada, ela tenta seduzir o professor e transmitir-lhe todo o seu afeto, assim o professor, além de ser uma figura de representação da lei paterna, tem que aprender a lidar com essa situação embaraçosa, mantendo o respeito e a distância necessária num relacionamento entre professor e aluno.

   A mudança de comportamento é vista em todos da classe, a rebeldia domada pela superação da ausência da simbologia paterna dá lugar ao amadurecimento dos adolescentes. Mark Tackeray é a representação do professor que supre a ausência do pai. Outra passagem interessante do filme é quando no inicio da história um dos alunos, Seals (que andava cabisbaixo), é visto pelo professor. O mestre pergunta a ele o motivo de sua tristeza, ao que o mesmo responde que a mãe está doente e culpa o pai pela fase que está passando, Seals demonstra claramente sua fúria em relação à figura do pai. No final do filme a mãe do adolescente morre, e é para os braços do professor que ele corre para poder chorar e desafogar a sua dor. Fica claro, que o professor além de substituir a figura do pai no que diz respeito à imposição de regras aos adolescentes, também supre a ausência do pai no que diz respeito às demonstrações de carinho dos jovens.

   Os adolescentes do filme passaram por um processo de amadurecimento, da repulsa à figura do professor passaram ao agradecimento e respeito. No final do filme, o professor vê a sua missão com essa classe cumprida e tem a oportunidade de voltar a trabalhar como engenheiro, mas após uma cena de comoção ao ser homenageado por sua turma se depara com dois jovens, tão rebeldes quanto a sua classe de inicio. Ele então toma a decisão de continuar lecionando, pois vê que outros jovens que precisam suprir a ausência do pai simbólico para amadurecerem e não caírem na delinqüência. No filme, vemos a ausência do pai simbólico se dissipar na figura do professor, a figura do pai está presente no mestre, com carinho.

 
 
TEXTO BASE:
GOLDENBERG, Gita Wladimirski. Levisky,D.L.(org). O pai simbólico está ausente na criança e no adolescente infratores. In: Adolescência pelos caminhos da violência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

4 de outubro de 2010

O silêncio e o vazio

   O coração acordou apertado e na mente muitas dúvidas. Qual o caminho a tomar? Como compreender as coisas que aconteciam à sua volta? Difícil, tão difícil entender aquele meio e ainda mais, conviver com ele.

   Tanto julgamento infundado, tanto alarmismo, tanto conservadorismo, tanto conformismo, tanto preconceito, aliás, vários pré-conceitos sem cabimento, sem embasamento, sem profundidade, sem verdade, tão vis, tão mesquinhos! Aquilo tudo lhe sufocava... Tanta gente vazia num imenso espaço que precisava ser preenchido, como preenchê-lo? Encontrar tais respostas era ainda mais difícil! Como as pessoas podiam ser assim tão baixas e tão pequenas? Queria rebelar-se, apontar, confrontar esse universo de insanos, mas não podia, não valeria a pena, pois ia ser um grito no vácuo! E a insanidade pareceria lhe pertencer e não aos outros... O que fazer e o que falar? Queria debater, mas não queria brigar! No entanto, há debate com a forma sem conteúdo, com o discurso vazio, com a ignorância que se acha inteligente, com seres falsamente preocupados e que tentam disfarçar seu individualismo, mas não conseguem, são egoístas, não pensam no todo e nunca pensarão?!

   Como isso lhe causava uma sensação de dor e de morte! As palavras em resposta a essa gente seriam jogadas ao vento, o silêncio seria a melhor resposta. Ia tomando amargamente o silêncio... O silêncio silenciava a sua própria alma, evitava as brigas que não queria travar, mas a tornava muito mais vazia do que as pessoas vazias que criticava. E o aperto se apertava...

 
 
Por Natália Chagas

21 de setembro de 2010

Minhas Leituras - "Magneto - Testamento": a origem da vilania


      Outro dia meu namorado me emprestou o HQ Magneto – Testamento publicado pela editora Panini. Adoramos esse tipo de leitura, afinal, heróis, super-heróis e vilões sempre rendem uma boa discussão. E Magneto rende boas reflexões.
      Quem achar que essa leitura mostrará como ele se tornou um mutante e como ganhou os seus poderes ou quando começou a usá-los poderá se decepcionar. A história, entretanto, nos faz compreender a origem de sua vilania e porque a sua mutação está relacionada com metais/magnetismo. Compreendemos porque ele defende uma supremacia dos mutantes.
      O verdadeiro nome Erik Magnus Lehnsherr é Max Eisenhardt, sobrenome judeu alemão. Eisen em alemão é ferro, desde jovem Erik demonstra habilidade no manuseio desse material e outros metais (faz colares, consegue jogar longe uma lança de ferro no colégio, encontra moedas, etc.). O elemento ferro estar em seu sobrenome talvez justifique o motivo pelo qual Magneto tenha controle dos campos eletros-magnéticos e manipula o ferro em todos os seus estados, bem como levita outros seres que tenham o ferro em sua volta. Mas, em minha opinião, não é isso que nos prende à leitura dessa história em quadrinhos.
      Há uma frase nessa história que permeia quase toda a narrativa: “Há um momento na vida em que tudo se alinha”, essa frase mesmo após a leitura continuou ecoando em minha cabeça. Os alinhamentos dos momentos nessa história despertam o vilão. É um ciclo, a intolerância vivida gerará a intolerância sentida.
      O HQ conta a história da ascensão do regime nazista, passando pelos árduos tempos dos campos de concentração até que a Segunda Grande Guerra chegasse ao fim com a Alemanha nazista derrotada. A narrativa dessa história em quadrinhos trata a ditadura nazista de forma bem real e contundente. Max Eisenhardt era um jovem judeu que cresceu em meio à ascensão do regime nazista na Alemanha dos anos 30, viu o seu povo ser humilhado e perseguido pelos alemães. Na escola não podia demonstrar ser mais inteligente ou habilidoso que seus colegas, desafiar essas leis implicou em sua expulsão da escola. Max e sua família fogem para a Polônia em busca de refúgio, mas os alemães acabam invadindo também o solo polonês, assim, acabam no Gueto de Varsóvia, tentam a fuga, mas são traídos e encontrados pelos nazistas, sua família é executada. Max é levado para o mais temido campo de concentração, Auschwitz. E até o fim da Guerra Eisenhardt tenta se manter vivo nos campos de concentração, passando pelas mais diversas situações de horror.
      Após a leitura refleti sobre a seguinte questão: o homem é produto do meio. Magneto cresceu em um ambiente de intolerância e repulsa, onde uma “raça” se dizia superior à outra, em um período em que os judeus não eram tratados como humanos. Adolf Hitler e Magneto seriam criador versus criatura? Hitler acreditava que a raça ariana era superior, que eram mais fortes e que os alemães deveriam dominar o mundo. Erik Lehnsherr quer que o mundo aceite a raça mutante, mais quer que os mutantes dominem o mundo por julgar que os poderes/dons são a prova da superioridade de mutantes sobre humanos. É nesse ponto que entendemos porque Erik tem tanto ódio da humanidade. Longe de colocar o personagem real e histórico no mesmo patamar que o personagem da ficção ou de comparar a barbárie de uma guerra real com a guerra da fantasia, mas podemos notar que o nazismo espalhou tanta maldade que gerou vilões para além da realidade. Pensando dessa forma, Magneto seria o Hitler do universo mutante. Se para o ditador nazista judeus, ciganos, negros e outros povos eram uma subraça, para Lehnsherr essa subraça é formada por todos os humanos. Magneto tem várias personas: é o oprimido, o questionador e o opressor. Tal história não pode justificar, mas pode nos fazer entender a vilania brotada nessa personagem. Há personagens que usam a dor para praticar o bem, há personagens que usam a dor para vingar-se. Magneto é um vilão que quer vingar-se da humanidade, mas nunca me causou medo, pelo contrário, me causa compaixão. Longe de defender o vilão, mas como não compreendê-lo?
      Magneto – Testamento é uma ficção que tem fatos reais como pano de fundo, é impossível ler as passagens sem um nó na garganta e sem percebemos que nem a ficção foi capaz de amenizar tal momento da história mundial.



Ficha:

Marvel Coleçoes - Magneto - Testamento, Vol.04

Autor: PAK, GREG

Ilustrador: GIANDOMENICO, CARMINE DI

Editora: PANINI LIVROS

25 de agosto de 2010

Meu malvado favorito e a literatura infantil

     




      De supervilão à superpai – essa é a trajetória de Gru personagem da animação Meu malvado favorito. Essa animação está conquistando crianças e adultos e tem sido um enorme sucesso de bilheteria nos cinemas. Além disso, é uma das animações mais engraçadas dos últimos tempos, além de muito inteligente.
      Gru que se considerava o mais malvado dos vilões tem que firmar esse status de maldade ao ver surgir um vilão concorrente, Vetor. Vetor é um vilão mais jovem e com recursos tecnológicos superiores aos de Gru que passa a ser considerado um vilão velho. Gru arquiteta um plano para roubar a lua e para isso ele conta com a ajuda de Dr. Nefrário e dos simpaticíssimos Mínions. O roubo da lua, entretanto, não é um mero ato de maldade em que o vilão trocaria a lua por dinheiro. Desde criança Gru sonhava em ir para lua, ele tinha sonhos que sempre foram ignorados por sua mãe, Gru cresceu sem demonstrações de afeto. O plano do vilão inclui a adoção de três irmãs orfãs: Margo, Edith e Agnes e é essa relação entre vilão e crianças que chama a atenção.
      Inseridas no universo de Gru essas meninas de alguma forma irão lapidar a sua vilania em paternidade: é uma relação de descoberta e aceitação. De um lado as três garotas aprendem a gostar do pai adotivo e que foge ao “modelo ideal” que tinham sobre pais. Elas aprender a amar um sujeito esquisito e que demonstra ser indiferente e cruel. Por outro lado Gru terá um primeiro contato com as relações de afeto e vai se descobrir como pai, capaz de se ligar aquelas crianças e amá-las – indo de vilão a herói.
      Mas a cena que mais me chamou a atenção foi esta: Gru está no quarto e vai ler um livrinho para as meninas, um desses livrinhos com fantoches e com uma frase por página. Então ele pergunta se aquele livro era realmente para crianças, julga que uma criança de três anos poderia ter escrito aquilo.
      Há muitos livros de literatura infantil produzidos atualmente que me causam essa mesma sensação: mas isso é mesmo para criança? O autor pensou em escrever para uma criança? Alguns livros estão infantilizados demais, é como se o autor quisesse ser mais criança que a criança. Alguns livros parecem subestimar a inteligência de uma criança...
      Infelizmente, a literatura infantil é mais vista ligada ao sistema educativo do que ao literário, e por esse motivo ela fica amarrada a ditadura dos temas transversais e ao politicamente correto. A formação do leitor e do que será o gosto literário se dá na infância e é fundamental que as crianças sejam presenteadas com boa literatura. A literatura deve educar? Acredito que a resposta é afirmativa, mas acredito também que a literatura infantil não se deve restringir ao cunho pedagógico, não deve ser apenas paradidática. Literatura também deve entreter, divertir, instigar a imaginação para além das questões da sala de aula, provocar experiências tanto no campo da linguagem quanto no campo dos sentidos. Literatura deve nos afetar, nos envolver, afinal literatura é formação! E por ser formação é muito triste quando vemos o mercado literário enchendo-se de livros com “pedagogia barata”, onde pouco se pensa na criança enquanto leitor e pensa-se apenas nas adoções que esses livros podem gerar... E assim a literatura infantil fica presa apenas à escola.
      Felizmente há no mercado editorial boas exceções. Exceções que existem também no cinema, sobretudo nas animações...
      Assistir ao filme Meu malvado favorito é um deleite, e é bom ver essa história contada também em livros, pois quem criou essa história respeitou a inteligência das crianças e conseguiu envolver os adultos.
      Quanto à função e rumos da literatura infantil e até da juvenil... bom, isso é discussão para vários post´s!


Dica: para pensar sobre a literatura infantil é legal ler O que é Literatura Infantil de Lígia Cademartori, Coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense.