19 de abril de 2011

Você precisa ouvir aquela canção do Roberto!



     
      Que me perdoem os chatos de plantão, mas Roberto Carlos é fundamental! Cresci ouvindo as canções do Roberto e não me canso de ouvi-las... acredito que seguirei ouvindo, ouvi-lo é uma daquelas coisas que se passa de mãe para filha. 
      Roberto Carlos completa 70 anos de vida e já completou 50 anos de carreira! Nesse ano já foi até enredo de escola de samba, e ano após ano mantém seu status de rei de nossa música. Há pessoas que não escutam suas músicas, há os que julguem as suas canções pobres ou bregas, há os que dizem que ele faz há anos o mesmo show, as mesmas músicas, que não se renova... respeito a opinião, mas sinceramente, se tratando de Roberto Carlos isso é besteira.
      Ele foi o rei da Jovem Guarda e namorou esse tal de rock'in'roll... era uma brasa, mora? Teve mil garotas e fez o tipo lobo mal, ele foi o tal! A onda do iê-iê-iê foi passado e o lado romântico de Roberto Carlos florescendo. Em 1968, Roberto foi passear lá na Itália apresentado a canção Canzone per te no festival de San Remo e muita gente, do lado de cá ficou enciumada. É, muita gente falou mal de RC, criticavam o cantor popular que estava nascendo.
      Roberto Carlos virou rei! Ou será que já era? Difícil dizer quando ele virou majestade, acho que foi rei desde sempre... E o pessoal da música "cabeça", "engajada", "erudita" teve que engulir a seco o fato de que, no Brasil, um rei é posto no trono pelo povo. E ano após ano, o trono desse rei que gosta de trajar azul está garantido. Tem-se que tirar o chapéu, aqui, manter-se nesse posto por tanto tempo é algo para poucos. Nosso rei tem fãs de todas as idades, de ambos os sexos, de todas as regiões, com todos os sotaques, de todos os credos, de todas as classes sociais... Roberto Carlos não divide tribos, tem para todos os gostos! RC compôs canções bregas?! Sim, é claro... não gosto da fase das mulheres: de 40, de óculos, baixinha, gordinha... nem de concâvo ou convexo! Mas que se faça justiça, há lindas e lindas canções de amor. Os amores de Roberto são muitos, de todos os tipos também... O amor de filho para mãe, de amigo para amigo, amores vividos, amores sonhados, amores companheiros, amores traídos, amores ressentidos, amores perdidos, amores que já estão em outro plano. E, por mais que você relute, uma dessas canções vai tocar seu coração.
      Sou fã de Roberto Carlos, não tenho vergonha nenhuma em assumir... Não perco o especial de final de ano por nada nesse mundo, e choro, choro, choro... todas as vezes. É, ele é desses cantores que tocam nossa alma, com letras que traduzem seus sentimentos, coisas que se queria dizer para alguém... É o popular, com os sentimentos mais profundos que se pode ter! Gostanto ou não... reverencie, ele é o rei!
     
    

16 de abril de 2011

Me lembrou Carlitos...






      A Comédia, segundo Aristóteles, trata dos homens inferiores, isto é, trata de homens comuns (questões do dia a dia, rotineiras) ao invés de tratar sobre os deuses. Aristóteles não poderia prever que séculos depois o mundo ganharia um Deus da Comédia. Um homem comum que fez do gênero cômico uma arte elevada, um homem que tornou-se um dos mais aclamados atores e cineastas da História. Esse deus atenderia pelo nome de: Charles Spencer Chaplin.
      Charles Chaplin ficou famoso pelo seu personagem principal: The Tramp, ou Charlot, ou Carlitos, ou O Vagabundo. E que vagabundo mais adorável o cinema nos deu! O andarilho mais gentleman de todos os tempos, trajava um fraque preto (todo surrado), calça larga demais para seu corpo, sapatos gastos e grandes demais, um velho chapéu-coco, uma bengala e usava um bigodinho, além de ser dono de um andar todo seu.
     Chaplin nasceu em 16 de abril de 1889, em Londres e estaria celebrando 122 anos de vida. Em 1913 muda-se para os EUA onde inicia sua carreira no cinema. No começo, Chaplin que havia crescido no teatro vitoriano, teve dificuldade para adaptar-se a esse meio. Com o tempo, ele mesmo dirigiu e produziu seus filmes e assim, dominou a 7ª arte como ninguém. Charles foi deixando o pastelão de lado e introduzindo sentimentalismo ao gênero. A comédia de enganos, o personagem que gozava dos outros e dava-lhes pontapés e tijoladas também foi ganhando emoção, afeto e uma dose de pathos. Seus filmes, em um timing perfeito, nos causam o riso e o choro, a alegria e a emoção. Que outro vagabundo poderia ter causado mais afeto em seu público? Havia também um tom de crítica em seus filmes, crítica à modernidade e aos regimes ditatoriais.
      O país em que se consagrou artisticamente, tratou-lhe mal. Na era do macarthismo foi acusado de atividades anti-americanas, incluido na lista negra de Hollywood. Muito disso foi causado pelas especulações e boatarias da chamada impressa-marrom. Em 1952 o visto de emigração de Charles Chaplin foi revogado pelo governo americano, que se aproveitara de sua viagem ao Reino Unido para divulgação de um filme. Chaplin, então, exila-se na Suíça.
      Vinte anos depois, Carlitos retorna aos EUA para receber um Oscar Honorário e foi ovacionado em pé por cerca de dez minutos. Será que nesses aplausos, havia um certo pedido de perdão por parte daqueles que lhes viraram as costas anos antes? O olhar de Chaplin, embaixo do telão que exibia imagens de seus filmes, assistindo a essa homenagem com os olhos marejados é algo marcante. Nessa época sua saúde já ficava debilitada e cinco anos depois, aos 88 anos, em uma noite de Natal as cortinas do mundo fecham-se para ele.
      Chaplin jamais será esquecido, seu clássico andarilho será eternamente lembrando, assim como seus clássicos filmes: Vida de cachorro, O Garoto, Pastor de almas, Em busca do ouro, Tempos modernos, O grande ditador, O circo, Luzes da cidade e Luzes da ribalta, Um rei em Nova York, etc. As canções de seus filmes também sempre embalarão nossos corações.
      Chaplin nos ensinou muitas coisas, e principalmente, nos ensinou que apesar de todas as adversidades nunca deveremos deixar de sorrir. Como não abrir um sorriso com Carlitos? Obrigada por tudo Sir Charles Chaplin!

2 de abril de 2011

Dia do livro infantil - Hans Christian Andersen






      O escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen, completaria 206 anos de vida. Obviamente, nenhuma pessoa chega com vida nessa idade, mas a sua obra e o seu legado sim. Grandes escritores tornam-se imortais através de sua obra.
    Andersen é um dos principais nomes da literatura infantil, sua obra tem encantado crianças de todo o mundo através do decorrer da História. Entre suas mais famosas obras estão: A princesa e a ervilha, A pequena vendedora de fósforos, A roupa nova do rei, A polegarzinha, O soldadinho de chumbo, O patinho feio e A pequena sereia.
    O escritor nasceu em uma família muito pobre, mas a vida humilde que levou não o impediu de criar histórias ricas em imaginação e valores. Foi ele a primeria voz a criar doces histórias para as crianças. Sim, Andersen criava histórias como ninguém havia feito. Antes a literatura destinada ao público infantil e juvenil era feita por compiladores (como os irmãos Grimm), isto é, pessoas que registravam contos e histórias populares, e os reuniam em livros.
    A magia dos contos de fadas, sobretudo, dos contos criados pelo autor aqui homenageado está no fato de eles serem atuais e, ainda mais, nos mostram que a fantasia pode educar. Sim, as lições passadas nesses contos podem ser usadas em nossa atualidade.
     O conto do patinho feio, pode ser um dos primeiros registros de bullying. Um patinho que não se encaixava nos padrões dos demais, era rejeitado pela mãe, pelos irmãos, todos o maltratavam: chamavam-no de feio, o rejeitavam e o perseguiam. O conto também fala de superação, o patinho foge, procura um lugar em que seja aceito, vai crescendo, até encontrar um grupo de belos cisnes que o aceita, o patinho feio havia se tornado um belo e imponente cisne. A beleza nasce quando menos se espera, portanto, não desdenhe se não puder enxergá-la antes.
    Em a roupa nova do rei, Andersen abriu os olhos daqueles que são cegados pelo poder (opressor e oprimidos), desnudou a realeza e nos mostrou o quão puro é olhar de uma criança, único ser capaz de dizer a verdade sem temor.
    O amor e tudo que o cerca também esteve presente em seus contos: o amor sem final feliz entre O soldadinho de chumbo e a sua bailarina, o amor que depende de provas como em A princesa e a ervilha, o amor maternal e o amor que precisa lutar e reencontrar o ser amado estão em A polegrazinha e por fim, o amor incomensurável e de abdicações que encontramos em A pequena sereia.
    Que a data de hoje, seja sempre celebrada! Não apenas para lembrar Hans Christian Andersen, mas para celebrar todos os escritores de literatura infantil e juvenil. Todos aqueles que colocam o universo das crianças na ponta do lápis, tornando a fantasia, a imaginação, os sentimentos e as lições de vida coisas palpáveis. Que a literatura infantil mantenha sua qualidade, pois a formação das pessoas também depende muito do que leram na infância.


3 de março de 2011

O Carnaval, o samba e os desfiles - Homenagem aos sambistas e as escolas de samba

   Abram alas, o Carnaval chegou! Durante o período carnavalesco o Brasil será conduzido por uma orquestra de instrumentos de percussão: que venham os tamborins, os repiques, os tantãs, os surdos, os agogôs, as cuícas, os reco-recos, os chocalhos, pandeiros e tudo mais que gere um bom batuque e nos brinde com o melhor do samba e do samba-enredo. 
    Sim, no Brasil, Carnaval é o tempo sagrado para se ouvir um bom partido-alto, um samba de terreiro, samba-choro, um samba-canção, um samba-exaltação, um samba-de-breque,  um samba-enredo. O samba vem da Bahia, vem do morro carioca, vem da garoa paulistana, vem do fundo de um quintal... mas não podemos esquecer que sua raíz vem lá da África! Sim, o nosso Carnaval é o tempo de relembrarmos nossas raízes africanas e resgatar um pouco da nossa História. 
    As escolas de samba muitas vezes cumprem (ou pelo menos tentam) essa missão através de seus desfiles. O samba-enredo é um conjunto de letra e melodia que resumem um tema, ou seja, o enredo escolhido por uma escola de samba. As escolas de samba estão ligadas a história do carnaval carioca: em 1928, no berço do samba, nascia o bloco Deixa Falar (entre seus fundadores estava o grande Ismael Silva) que seria o esqueleto da nossa 1ª escola de samba: Estácio de Sá. Assim, novos blocos/escolas foram surgindo e disputando o carnaval com seus sambas-enredo. Foi na década de 1930 que esses concursos foram oficializados e que as escolas passaram a exaltar personagens e fatos históricos. Obviamente, a veracidade histórica dos enredos carnavalescos pode e deve ser contestada, pois baseiam-se em olhares folclorizados. Os enredos históricos começaram a ser cantados pela perspectiva do colonizador e depois dos colonizados (opressor versus oprimido): de um lado a camuflagem dos fatos da terra daqui, de outro lado o imaginário sobre a terra de lá - um festival de verdades míticas, um festival de mentiras históricas - mas, sempre rendiam uma boa letra de samba-enredo.  Hoje os sambas-enredo continuam com sua veracidade constestada, pois somarem-se os olhares dos coreográfos e cenógrafos que querem produzir um espetáculo apoteótico - os desfiles se renderam ao show-business - o Carnaval virou o maior evento da nossa cultura popular e da indústria cultural. É preciso ressaltar que os enredos são livres e não são só sobre a África, ou temas da História. Verdades ou mentiras, popular ou industrial o fato é que os desfiles do passado e os desfiles de hoje despertam grande fascínio.
    Estudos acadêmicos à parte, é necessário dizer que certas escolas de samba, toda vez que pisam na avenida provocam em muitas pessoas uma emoção inexplicável. Aliás, um bom samba é uma emoção inexplicável! É por causa do samba e das escolas de samba que gosto tanto do Carnaval.
   É emociante ver o azul e branco portelense tingindo a avenida, nesse momento mágico (dentro do coração de quem gosta de samba) sabemos que é a deusa do samba que está desfilando. O azul e branco também podem ser da escola lá da Vila, aquela que não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também. Pode ser também da magestosa e soberana, de fato, nilopolitana Beija-Flor. Quando as cores passam a ser o verde e rosa, temos a ciência que veremos a beleza de um cenário que a natureza criou - sim, é a Mangueira que chegou. E o vermelho e branco? Ah, pode ser a academia de samba que me faz feliz, salve Salgueiro! Pode ser também, o lugar onde podem matar-nos de amor... a escola de samba do largo do Estácio. Tantas cores, tantas histórias, tantos enredos, tantas melodias, tantas baterias - salve Tradição, Mocidade Independente de Padre Miguel, Viradouro, Unidos da Tijuca, Porto da Pedra, Caprichosos de Pilares e tantas outras...
   Ah, e nos desfiles não podem faltar a vozes potentes dos intérpretes de samba-enredo (puxador NÃO, como diria o grande Jamelão), o som do cavaquinho, as saias rodopiantes da ala das baianas, a encenação da comissão de frente e a elegância de um mestre-sala e sua porta-bandeira.
  Tirando os desfiles de carnaval e os sambas-enredo... Como é bom ouvir um bom samba e suas variantes. Sim, o carnaval é o tempo de lembrar que o samba vem do coração, que funciona como oração! 
  É Carnaval: Salve Ismael, Sinhô, Adoriran, Cartola, Noel, Candeia, Anicetos ( da Portela e do Império), Argemiro, Ataulfo, Casquinha, Dona Ivone, Dona Zica, Heitor dos Prazeres, João Nogueira, Jackson do Pandeiro, Jair do Cavaquinho, Jamelão, Jovelina Pérola Negra, Luiz Carlos da Vila, Manaceia, Monarco, Moreira da Silva, Bezerra da Silva, Martinho da Vila, Mestre Marçal, Nei Lopes, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Nelson Rufino, Paulo da Portela, Paulinho da Viola, Ratinho, Riachão, Silas de Oliveira, Tobias da Vai-Vai, Tia Eulália, Tia Doca da Portela, Tia Surica, Tinga, Walter Alfaiate, Zeca Pagodinho, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Noite Ilustrada, Elizeth Cardoso, Noca da Portela, Dorival Caymmi, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Teresa Cristina, Quinteto e Branco e Preto, Diogo Nogueira, Roberta Sá, Chico Buarque, Vinicius e Tom. Salve as velhas guardas: da Portela, da Mangueira, do Império... Salve Osvaldo Cruz e Madureira e todos os poetas da Praça Onze!
 Salve a todos que trazem o samba na alma e bom Carnaval!!!

2 de março de 2011

Mamonas Assassinas - 15 anos de saudade







    Utopia... Entre algumas definições desse verbete no Houaiss está: "projeto de natureza irrealizável; ideia generosa, porém impraticável; quimera, fantasia". Para muitas pessoas esse projeto irrealizável está em montar um banda (possivelmente de rock) e fazer sucesso.  
    Utopia foi o primeiro nome de uma banda formada por cinco garotos de Guarulhos, garotos que se apresentavam na periferia de São Paulo fazendo covers de bandas de rock. Entretanto, o tom sério do nome e os covers de "bandas sérias" não combinavam com o espírito brincalhão dos cinco integrantes, eles eram melhores fazendo performances engraçadas e paródias musicais. Utopia cedeu ao escracho, o irrealizável ia cedendo ao realizável e assim, nascia uma banda chamada Mamonas Assassinas.
    Em Julho de 1995, o Brasil passava a conhecer e a gostar de Bento, Dinho, Júlio, Samuel e Sérgio. Em pouco tempo as crianças, os jovens e os adultos passavam a cantar: "Roda, roda  vira, solta a roda e vem/Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém", "Mina, seus cabelos é da hora...", "Quanta gente, quanta alegria, a minha felicidade é um crediário nas casas Bahia", "Comer tatu é bom/Que pena que dá dor nas costas", "Um tanto quanto másculo, com M maiúsculo, vejam só os meus músculos que com amor cultivei...", e muito mais...
    De julho de 1995 a março de 1996 o Brasil viveu a "mamonasmania". Foram 7 meses de contagiante alegria, os maiores contagiados? As crianças (e eu era uma delas)! Os Mamonas Assassinas misturavam em suas canções: rock, pagode, forró e até música tradicional portuguesa (o vira). Apresentavam-se fantasiados: coelhinhos, batman e robin, irmãos metralhas... enfim, roupas coloridas, perucas, chapelões grandes e engraçados e além disso, sempre havia uma coreografia. Esse jeito irreverente cativava as crianças, todas queriam imitá-los e as canções eram fáceis de decorar.
    Através das canções dos Mamonas, as crianças podiam cantar os palavrões que aprendiam e diziam baixinho (longe dos ouvidos de seus pais), os pais não davam bronca, não levavam a "malcriação" a sério, era brincaderinha... As crianças estavam livres para fantasiar, brincar sem censura, desenvolver uma malícia inocente, não tinha maldade, era só diversão: um pouco de malícia não faz mal a ninguém... Os pais não podiam dimensionar o quanto seus filhos afeiçoavam-se há esse bando de garotos fanfarrões.
    Na noite de 02 de março de 1996, o jatinho com os cinco rapazes de Guarulhos, dois assistentes da banda, piloto e co-piloto chocou-se na Serra da Cantareira. A notícia da morte prematura dos Mamonas chocaria o país no dia seguinte. Muitas pessoas não quiseram acreditar, esperavam ser uma brincadeira de mal gosto... Infelizmente, não era mentira: os Mamonas Assassinas passaram por aqui tão rápidos como um cometa.
    Muitas crianças aprenderam ali o significado da palavra morte, tiveram o primeiro contato com a sensação de dor e perda de pessoas queridas, afinal, eram eles uma espécie de irmão/primos mais velhos que nos ensinavam a fazer traquinagens. Muitos pais tiveram que ensinar seus filhos a lidar com o sentimento de tristeza, tiveram que encontrar uma maneira de explicar que seus ídolos não faziam mais parte desse plano. O Brasil parava para chorar a morte de jovens tão cheios de vida. É sempre assim, a morte de ídolos no auge da carreira, com tão pouca idade é capaz de comover um país inteiro. Os pais dessa geração perceberam então, que Mamonas Assassinas foi a brincadeira mais séria que tivemos contato.
     Com os Mamonas aprendemos que crianças não são tão inocentes assim, que de vez em quando falar um ou dois palavrões não é pecado, que debochar na dose certa não é maldade, que podemos rir do que nos parece um pouco nojento ou ridículo, que cantar umas besterinhas de vez em quando é bom para espalhar o riso, que cometer um errinho de português de vez em quando pode ser divertido, que não devemos levar os problemas tão a sério, que diversão é fundamental, que ter um pouco de malícia (sem maldade, sem exagero) não faz mal a ninguém, que é gostoso espalhar alegria e que dançar, cantar e falar bobagens com os amigos é mais do que fundamental!
    Faz 15 anos que Dinho e companhia nos deixaram para ir alegrar outro lugar, talvez tenham ido brincar nos "campos do Senhor"... vai saber? Cada um acredita naquilo que lhe conforta. Nenhuma banda será como eles foram, tão meteórica - 15 anos depois, nossa geração, deve ainda colher o legado que nos deixaram: irreverência e alegria sempre! Salve Mamonas Assassinas...



                                                                                                                  Natália Chagas


25 de janeiro de 2011

Salve Maestro Soberano


      À 25 de Janeiro de 1927 nascia o carioca que maestrou a música de nosso país: Antônio Carlos Jobim, nosso Tom Jobim, nosso maestro soberano, o tom de nossa música.
      Tom tentou ser arquiteto, mas não terminou a faculdade... as teclas do piano, a boêmia, as partituras, as regências, a poesia embutida nas letras das canções, as mulheres (musas inspiradoras de suas composições), enfim... a Música lhe chamava, precisava ele cumprir seu destino para a maestria.
      Em 1958, o Brasil conhecia a canção Chega de Saudade, composição de Tom e Vinicius de Moraes lançada no 1º compacto de João Gilberto: nascia então a Bossa Nova! Que belas parcerias Tom fez em sua estrada: o poetinha Vinicius, o "desafinado" João Gilberto, Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina... tantos outros compositores, letristas, musicistas, poetas, cantores e cantoras que aqui não cabem, mas que compartilhavam um pouco de sua genialidade. Tom gravou até com The Voice (Frank Sinatra) a versão em inglês de sua celebre Garota de Ipanema.
      Se estivesse vivo, Tom completaria 84 anos! Só temos que agradecer pelo seu 84º aniversário, afinal, nosso maestro nos mostrou muita coisa boa: foi ele que nos fez deleitar o fino da bossa, a cantar a felicidade, a apreciar as águas de Março, a descobrir que amor só é amor se for em paz, a relembrar os anos dourados, a ouvir um bom bolero, a cantar uma moça bonita, que brigas não devem existir nunca mais, que canções podem ser para eternas despedidas ou para amores demais, a dizer para saudade, chega!, a ver a beleza de quando se está chovendo na roseira, a querer passear em Copacabana ou no Corcovado, que a primavera pode ser derradeira, que podemos cantar desafinado, que dizer adeus às vezes é preciso, assim como dizer que eu sei que vou te amar, é... falando de amor, é preciso dizer eu te amo!, no fim de um romance, admirar as fotografias, soltar frases perdidas!
      Tom nos mostrou que: o balanço de uma mulher a caminho do mar pode ser eternizado, que podemos ter incerteza ou insensatez e acabar tudo num lamento!, que milagres e palhaços cabem em uma canção, já sabia ele que o morro não tem vez, que amanhã sempre haverá um samba e que na Mangueira tem espaço para um piano, pois é... por causa de alguém podemos pular carniça ou quebrar pedra e depois disso, colecionar sonetos e retratos em branco e preto que maltratam o coração, que ouvir sabiá é muito bom, que há rocknália e samba de uma nota só, há também samba do avião, samba torto, sambinha bossa nova e que samba não é brinquedo não!, que às vezes achamos que só podia ser com você, mas acabamos em solidão, acabamos sentindo tristeza, mas mesmo triste a turma do funil não para! Tom nos contou que há coisas que só o coração pode entender, assim como que para todas as mulheres se faz um canção...


Salve maestro! Como seria bom se todos fossem iguais a você...


20 de novembro de 2010

Apresentação no SIICUSP 2010, post em homenagem ao Dia da Consciência Negra






Minha pesquisa de Iniciação Científica na USP se intitula Literatura e Cultura popular: A representação de África nas letras de samba-enredo, e foi feita com orientação do Prof. Dr. Émerson da Cruz Inácio. A ideia para esta pesquisa surgiu através do contato com o samba-enredo Áfricas: do berço real à corte brasiliana apresentado no carnaval de 2007 pela escola de samba Beija Flor de Nilópolis. Esse enredo provocou debates na mídia e entre intelectuais sobre a forma como a África é representada nas letras de samba-enredo. Decifrar verdades e mentiras, mitos e história real tornaram-se uma necessidade, ainda mais levando-se em conta a lei 10.639 que determina o ensino de História e Culturas de base africana nos ensino fundamental e médio. A lei e o fascínio pela temática me mostraram o quão necessário era refletir sobre a influência da cultura africana sobre a cultura brasileira.

O primeiro passo para dar andamento a esta pesquisa foi encontrar sambas-enredo que tivessem a África e o negro como tema. Depois de enumerados esses enredos, definir um corpus a ser analisado e definir um eixo metodológico que fundamentasse essas análises. O corpus definido reúne letras de samba do carnaval carioca entre os anos de 1998 e 2008, onde foram analisadas oito letras de samba enredo. A análise foi fundamentada na análise do discurso francesa e na teoria baktiniana. Antes de dar inicio à análise dessas letras de samba enredo, foi necessário uma análise anterior. Uma análise de um samba-enredo que fosse emblemático acerca da representação de uma identidade africana no nosso carnaval e de onde pudéssemos basear a análise das letras do corpus selecionado. O samba-enredo utilizado para este fim foi Kizomba, a festa da raça com o qual a Vila Isabel ganhou o carnaval de 1988. Este enredo foi uma chave para as análises, pois foi um enredo que marcou os 100 anos da abolição do regime escravocrata no Brasil.

"Kizomba, a festa da raça - Rodolpho, Jonas, Luiz Carlos da Vila



Valeu Zumbi!

O grito forte dos Palmares

Que correu terras, céus e mares

Influenciando a abolição



Zumbi valeu!

Hoje a Vila é Kizomba

É batuque, canto e dança

Jongo e maracatu



Vem menininha pra dançar o caxambu (bis)



Ôô, ôô, Nega Mina

Anastácia não se deixou escravizar (bis)

Ôô, ôô Clementina

O pagode é o partido popular



O sacerdote ergue a taça

Convocando toda a massa

Neste evento que congraça

Gente de todas as raças

Numa mesma emoção



Esta Kizomba é nossa Constituição (bis)



Que magia

Reza, ajeum e orixás

Tem a força da cultura

Tem a arte e a bravura

E um bom jogo de cintura

Faz valer seus ideais

E a beleza pura dos seus rituais



Vem a Lua de Luanda

Para iluminar a rua (bis)

Nossa sede é nossa sede

De que o "apartheid" se destrua



Valeu!"

A letra deste samba-enredo da Vila Isabel nos traz a representação de um negro que resistiu à escravidão; mais do que isso, um negro que não deixou de lutar contra o preconceito racial, que não perdeu a esperança por liberdade e igualdade. Essa representação se dá através de uma formação discursiva que nos traz enunciados que remetem a heróis e personagens marcantes da cultura negra no Brasil, como Zumbi dos Palmares, a escrava Anastácia e a sambista Clementina de Jesus. Há também a representação de elementos que compõe a cultura religiosa e festiva do negro: a kizomba, jongo, maracatu, caxambu, pagode, ajeum e orixás.

Há outras razões discursivas que devem ser levadas em conta no enredo da Vila Isabel. Em primeiro lugar, as razões históricas, pois em 1988 se comemorava os 100 anos da abolição da escravatura do país e marcava também a implementação da nova Constituição brasileira. A compreensão desses dados é uma chave para a análise deste samba-enredo. Kizomba funcionará como um signo lingüístico que nos remete a uma festa de resistência cultural de um povo e que irá articular dois sujeitos, o histórico e o ideológico (Negro como escravo, como subcidadão depois de liberto; o imaginário coletivo do negro e sobre o negro). Histórico porque faz referência um estilo musical, a uma dança e festa que passaram a ser assim designadas na década de 80, em Angola, por grupos pertencentes às Forças Armadas pela Libertação de Angola. E ideológico porque engloba toda a congregação de povos que resistiram à opressão, a toda festa de um povo que resistiu bravamente à escravidão. A Kizomba da Vila Isabel configura-se no espetáculo do Carnaval carioca. O Carnaval é uma festa popular que atinge todo o povo, assim, a kizomba que a Vila diz ser “nossa Constituição” pressupõe a confraternização de todas as culturas, um símbolo pelo direito a igualdade de todas as raças.

Outra marca entre História e ideologia está na referência ao Apartheid. No trecho que diz “Nossa sede é nossa sede/De que o “apartheid” se destrua”, a formação discursiva não nos remete apenas ao regime imposto na África do Sul desde 1948, que separava negros e brancos e que desqualificava o negro como cidadão, mas também nos remete à um apartheid simbólico que ainda separa o negro do branco. A construção desse discurso nos mostra que mesmo celebrando os 100 anos do fim da escravidão, mesmo que haja uma festa que congrace todas as raças, há ainda uma diferença de direitos, há ainda um preconceito implícito em todas as sociedades e que ainda precisa ser vencido.

Kizomba, a Festa da raça não é um samba ressentido, nem de protesto, mas um samba que apesar de celebrar tem uma pontuação crítica. Pode-se supor que o processo discursivo não tem um fim, está no domínio da antecipação. Na análise do discurso, o domínio da antecipação é o que dá abertura às relações discursivas, relacionando o domínio da memória com o da atualidade. Isso porque há interação entre o negro do passado com o negro para quem se canta, porque há uma ponte entre o negro herói, valente, mártir com o negro que, mesmo liberto, ainda tem que lutar por seus direitos, um negro que mesmo festejando ainda tem que destruir as separações raciais. Há a interação do negro narrado pelo discurso da História com o negro da realidade atual que ainda tem que construir uma nova História do seu povo. A kizomba da Vila Isabel construiu seu discurso na celebração de um negro que lutou e sofreu sozinho pela liberdade com a celebração de uma festa popular que pode alertar para que todas as culturas unam-se em busca do fim das diferenças.

Após essa primeira análise, as outras letras foram analisadas separadamente e em cada uma delas buscou-se encontrar as depreensões que temos da África. Os sambas-enredo analisados foram: “Negra Origem, negro Pelé, negra Bené” (Caprichosos de Pilares); “Dom Obá II – Rei dos esfarrapados”, “Príncipe do povo” (Estação Primeira de Mangueira); “Liberdade! Sou negro, sou raça, sou Tradição” (Tradição); “Zumbi, rei de Palmares e herói do Brasil – A História que não foi contada” (Caprichosos de Pilares); “Agudás, os que levaram a África no coração e trouxeram no coração da África o Brasil” (Unidos da Tijuca); “Áfricas, Do berço real à Corte brasiliana” (Beija-Flor de Nilópolis); ‘Preto e Branco a Cores”(Unidos do Porto da Pedra) e “Candaces” (Unidos do Salgueiro). A finalidade dessas análises foi a de descrever a forma como a África é apresentada nessas letras, uma vez que majoritariamente tal visão apresenta um viés mítico e que não condiz com a realidade do continente. As análises feitas com base na análise do discurso francesa, analisou o discurso que “rege” o pensamento que o Brasil tem acerca do continente africano. Através das letras de samba-enredo buscamos elementos pertencentes à cultura e tradição africana e seus referenciais na cultura brasileira: alimentos, religião, tribos/povos, dialetos etc. Muito da história contada por essas letras é fruto do que muitos livros didáticos nos fizeram pensar até hoje sobre África. Muito, também, é pertencente ao imaginário popular dos descendentes africanos que têm em sua mente uma memória de África na qual não viveram verdadeiramente.

Para as análises, não foram usados apenas elementos referentes à análise do discurso, também nos pautamos em teóricos que realizaram estudos sobre cultura popular, história do samba no Brasil e sobre cultura afro-brasileira, tais como: Nei Lopes, Rogério Saturnino, José Ramos Tinhorão, Rodrigo Duarte, Raymond Williams, Alfredo Bosi, Peter Burke, Mikhail Bakhtin e Sérgio Cabral. Todos estes pensadores são importantes à medida que tecem reflexões sobre as culturas populares e suas influências na sociedade e literatura. Alguns deles funcionam como chave para entendermos o real significado dos termos tais como cultura, sociedade, discurso e literatura. Outros nos levam a pensar sobre a importância da formação da história do samba, do seu nascimento musical e na sua dança, pois são frutos da herança que a música e dança africanas deixaram em nosso país.

Ao observar a história do samba temos a confirmação de que o sangue que corre nas veias da cultura do Brasil é sangue genuinamente provindo da África ou, pelo menos afetivamente, tido como tal. Desta forma, deveríamos ter uma preocupação com uma abordagem mais realista da História Africana e não ficarmos nos embasando somente em histórias fantásticas da tradição oral, que muitas vezes podem induzir a um juízo falso sobre as culturas de base africana no Brasil. No caso, devemos pensar na associação entre os saberes populares e os cada vez mais crescentes saberes eruditos que têm sido construídos a respeito do continente negro. No entanto, a partir das análises realizadas, pensamos que talvez o fato de cantarmos apenas a África mítica e sonhada seja produto do espetáculo midiático. O mítico é muito mais interessante aos olhos encantados que acompanham o carnaval que necessariamente a história real.

Analisar as letras de samba-enredo não é uma tarefa fácil, pois primeiro temos que desautomatizar os olhares fantasiosos sobre o continente africano. Temos que partir do ponto de que a África cantada nos enredos carnavalescos é real apenas no tempo de duração dos desfiles, ou seja, neste período a ficção vira realidade na encenação que no desfile se realiza. Essa visão liberta torna-se difícil se pensarmos que até hoje o que nos é ensinado sobre África não é aprofundado e nem suficiente, já que em momento anterior a PEP 10.639, a África surgia apenas para nos mostrar de onde vinham os escravos trazidos ao continente americano e de onde as potências europeias tiravam tantas riquezas.

Outra dificuldade é que ainda há muito preconceito quando se trata de África e de cultura popular. Por outro lado, os estudos e análises sobre carnaval, samba e África despertam comentários muito “apaixonados” e instigantes. Quanto mais se estuda e descobre, mais surge à vontade de descobrir coisas novas e acrescentar novas pontuações à pesquisa. De um lado há quem diga que a História e as letras de samba-enredo mentem sobre a África; por outro, há quem diga que a própria tradição e imaginário africanos mentem sobre o continente negro. Verdades ou mentiras, a realidade é que essas questões hão de sempre despertar fascínio em quem as encara como objeto de análise e pesquisa.

As conclusões tiradas foram as de que podemos inferir que o samba foi se tornando uma espécie de sonho de liberdade para os negros daqui, que desconheciam a realidade africana passada e presente. Contar um pouco da história do samba no Brasil, das suas origens aos dias de hoje e assim discutir a nossa visão de África através do samba, contrastando-a com as imagens que comumente são representadas no material literário, se faz cada vez mais necessário, já que esses estudos permitem colocar lado a lado a África imaginária e a África real.