25 de agosto de 2010

Meu malvado favorito e a literatura infantil

     




      De supervilão à superpai – essa é a trajetória de Gru personagem da animação Meu malvado favorito. Essa animação está conquistando crianças e adultos e tem sido um enorme sucesso de bilheteria nos cinemas. Além disso, é uma das animações mais engraçadas dos últimos tempos, além de muito inteligente.
      Gru que se considerava o mais malvado dos vilões tem que firmar esse status de maldade ao ver surgir um vilão concorrente, Vetor. Vetor é um vilão mais jovem e com recursos tecnológicos superiores aos de Gru que passa a ser considerado um vilão velho. Gru arquiteta um plano para roubar a lua e para isso ele conta com a ajuda de Dr. Nefrário e dos simpaticíssimos Mínions. O roubo da lua, entretanto, não é um mero ato de maldade em que o vilão trocaria a lua por dinheiro. Desde criança Gru sonhava em ir para lua, ele tinha sonhos que sempre foram ignorados por sua mãe, Gru cresceu sem demonstrações de afeto. O plano do vilão inclui a adoção de três irmãs orfãs: Margo, Edith e Agnes e é essa relação entre vilão e crianças que chama a atenção.
      Inseridas no universo de Gru essas meninas de alguma forma irão lapidar a sua vilania em paternidade: é uma relação de descoberta e aceitação. De um lado as três garotas aprendem a gostar do pai adotivo e que foge ao “modelo ideal” que tinham sobre pais. Elas aprender a amar um sujeito esquisito e que demonstra ser indiferente e cruel. Por outro lado Gru terá um primeiro contato com as relações de afeto e vai se descobrir como pai, capaz de se ligar aquelas crianças e amá-las – indo de vilão a herói.
      Mas a cena que mais me chamou a atenção foi esta: Gru está no quarto e vai ler um livrinho para as meninas, um desses livrinhos com fantoches e com uma frase por página. Então ele pergunta se aquele livro era realmente para crianças, julga que uma criança de três anos poderia ter escrito aquilo.
      Há muitos livros de literatura infantil produzidos atualmente que me causam essa mesma sensação: mas isso é mesmo para criança? O autor pensou em escrever para uma criança? Alguns livros estão infantilizados demais, é como se o autor quisesse ser mais criança que a criança. Alguns livros parecem subestimar a inteligência de uma criança...
      Infelizmente, a literatura infantil é mais vista ligada ao sistema educativo do que ao literário, e por esse motivo ela fica amarrada a ditadura dos temas transversais e ao politicamente correto. A formação do leitor e do que será o gosto literário se dá na infância e é fundamental que as crianças sejam presenteadas com boa literatura. A literatura deve educar? Acredito que a resposta é afirmativa, mas acredito também que a literatura infantil não se deve restringir ao cunho pedagógico, não deve ser apenas paradidática. Literatura também deve entreter, divertir, instigar a imaginação para além das questões da sala de aula, provocar experiências tanto no campo da linguagem quanto no campo dos sentidos. Literatura deve nos afetar, nos envolver, afinal literatura é formação! E por ser formação é muito triste quando vemos o mercado literário enchendo-se de livros com “pedagogia barata”, onde pouco se pensa na criança enquanto leitor e pensa-se apenas nas adoções que esses livros podem gerar... E assim a literatura infantil fica presa apenas à escola.
      Felizmente há no mercado editorial boas exceções. Exceções que existem também no cinema, sobretudo nas animações...
      Assistir ao filme Meu malvado favorito é um deleite, e é bom ver essa história contada também em livros, pois quem criou essa história respeitou a inteligência das crianças e conseguiu envolver os adultos.
      Quanto à função e rumos da literatura infantil e até da juvenil... bom, isso é discussão para vários post´s!


Dica: para pensar sobre a literatura infantil é legal ler O que é Literatura Infantil de Lígia Cademartori, Coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense.

 

Um comentário:

  1. Excelente texto!

    Lembra da nossa discussão sobre os rumos da real academia conservadora (isso exclui os professores mais modernos e tendências que você citou)?
    A construção do seu texto segue o que eu estava tentando ilustrar: questões modernas sob a otica das obras modernas.
    Desdobrando: nem sempre os textos dogmáticos são capazes de compreender a novidades de hoje, nem sempre os textos modernos são capazes de discutir com profundidade de onde vieram nossos problemas.
    Um não existe sem o outro. Fato.
    Mas cabe a academia, ao menos, considerar a nova safra de produção cultural, pois ela pode ser útil na construção de um mundo melhor: adaptação em detrimento da torre de marfim.

    AL

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