2 de março de 2011

Mamonas Assassinas - 15 anos de saudade







    Utopia... Entre algumas definições desse verbete no Houaiss está: "projeto de natureza irrealizável; ideia generosa, porém impraticável; quimera, fantasia". Para muitas pessoas esse projeto irrealizável está em montar um banda (possivelmente de rock) e fazer sucesso.  
    Utopia foi o primeiro nome de uma banda formada por cinco garotos de Guarulhos, garotos que se apresentavam na periferia de São Paulo fazendo covers de bandas de rock. Entretanto, o tom sério do nome e os covers de "bandas sérias" não combinavam com o espírito brincalhão dos cinco integrantes, eles eram melhores fazendo performances engraçadas e paródias musicais. Utopia cedeu ao escracho, o irrealizável ia cedendo ao realizável e assim, nascia uma banda chamada Mamonas Assassinas.
    Em Julho de 1995, o Brasil passava a conhecer e a gostar de Bento, Dinho, Júlio, Samuel e Sérgio. Em pouco tempo as crianças, os jovens e os adultos passavam a cantar: "Roda, roda  vira, solta a roda e vem/Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém", "Mina, seus cabelos é da hora...", "Quanta gente, quanta alegria, a minha felicidade é um crediário nas casas Bahia", "Comer tatu é bom/Que pena que dá dor nas costas", "Um tanto quanto másculo, com M maiúsculo, vejam só os meus músculos que com amor cultivei...", e muito mais...
    De julho de 1995 a março de 1996 o Brasil viveu a "mamonasmania". Foram 7 meses de contagiante alegria, os maiores contagiados? As crianças (e eu era uma delas)! Os Mamonas Assassinas misturavam em suas canções: rock, pagode, forró e até música tradicional portuguesa (o vira). Apresentavam-se fantasiados: coelhinhos, batman e robin, irmãos metralhas... enfim, roupas coloridas, perucas, chapelões grandes e engraçados e além disso, sempre havia uma coreografia. Esse jeito irreverente cativava as crianças, todas queriam imitá-los e as canções eram fáceis de decorar.
    Através das canções dos Mamonas, as crianças podiam cantar os palavrões que aprendiam e diziam baixinho (longe dos ouvidos de seus pais), os pais não davam bronca, não levavam a "malcriação" a sério, era brincaderinha... As crianças estavam livres para fantasiar, brincar sem censura, desenvolver uma malícia inocente, não tinha maldade, era só diversão: um pouco de malícia não faz mal a ninguém... Os pais não podiam dimensionar o quanto seus filhos afeiçoavam-se há esse bando de garotos fanfarrões.
    Na noite de 02 de março de 1996, o jatinho com os cinco rapazes de Guarulhos, dois assistentes da banda, piloto e co-piloto chocou-se na Serra da Cantareira. A notícia da morte prematura dos Mamonas chocaria o país no dia seguinte. Muitas pessoas não quiseram acreditar, esperavam ser uma brincadeira de mal gosto... Infelizmente, não era mentira: os Mamonas Assassinas passaram por aqui tão rápidos como um cometa.
    Muitas crianças aprenderam ali o significado da palavra morte, tiveram o primeiro contato com a sensação de dor e perda de pessoas queridas, afinal, eram eles uma espécie de irmão/primos mais velhos que nos ensinavam a fazer traquinagens. Muitos pais tiveram que ensinar seus filhos a lidar com o sentimento de tristeza, tiveram que encontrar uma maneira de explicar que seus ídolos não faziam mais parte desse plano. O Brasil parava para chorar a morte de jovens tão cheios de vida. É sempre assim, a morte de ídolos no auge da carreira, com tão pouca idade é capaz de comover um país inteiro. Os pais dessa geração perceberam então, que Mamonas Assassinas foi a brincadeira mais séria que tivemos contato.
     Com os Mamonas aprendemos que crianças não são tão inocentes assim, que de vez em quando falar um ou dois palavrões não é pecado, que debochar na dose certa não é maldade, que podemos rir do que nos parece um pouco nojento ou ridículo, que cantar umas besterinhas de vez em quando é bom para espalhar o riso, que cometer um errinho de português de vez em quando pode ser divertido, que não devemos levar os problemas tão a sério, que diversão é fundamental, que ter um pouco de malícia (sem maldade, sem exagero) não faz mal a ninguém, que é gostoso espalhar alegria e que dançar, cantar e falar bobagens com os amigos é mais do que fundamental!
    Faz 15 anos que Dinho e companhia nos deixaram para ir alegrar outro lugar, talvez tenham ido brincar nos "campos do Senhor"... vai saber? Cada um acredita naquilo que lhe conforta. Nenhuma banda será como eles foram, tão meteórica - 15 anos depois, nossa geração, deve ainda colher o legado que nos deixaram: irreverência e alegria sempre! Salve Mamonas Assassinas...



                                                                                                                  Natália Chagas


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