3 de março de 2011

O Carnaval, o samba e os desfiles - Homenagem aos sambistas e as escolas de samba

   Abram alas, o Carnaval chegou! Durante o período carnavalesco o Brasil será conduzido por uma orquestra de instrumentos de percussão: que venham os tamborins, os repiques, os tantãs, os surdos, os agogôs, as cuícas, os reco-recos, os chocalhos, pandeiros e tudo mais que gere um bom batuque e nos brinde com o melhor do samba e do samba-enredo. 
    Sim, no Brasil, Carnaval é o tempo sagrado para se ouvir um bom partido-alto, um samba de terreiro, samba-choro, um samba-canção, um samba-exaltação, um samba-de-breque,  um samba-enredo. O samba vem da Bahia, vem do morro carioca, vem da garoa paulistana, vem do fundo de um quintal... mas não podemos esquecer que sua raíz vem lá da África! Sim, o nosso Carnaval é o tempo de relembrarmos nossas raízes africanas e resgatar um pouco da nossa História. 
    As escolas de samba muitas vezes cumprem (ou pelo menos tentam) essa missão através de seus desfiles. O samba-enredo é um conjunto de letra e melodia que resumem um tema, ou seja, o enredo escolhido por uma escola de samba. As escolas de samba estão ligadas a história do carnaval carioca: em 1928, no berço do samba, nascia o bloco Deixa Falar (entre seus fundadores estava o grande Ismael Silva) que seria o esqueleto da nossa 1ª escola de samba: Estácio de Sá. Assim, novos blocos/escolas foram surgindo e disputando o carnaval com seus sambas-enredo. Foi na década de 1930 que esses concursos foram oficializados e que as escolas passaram a exaltar personagens e fatos históricos. Obviamente, a veracidade histórica dos enredos carnavalescos pode e deve ser contestada, pois baseiam-se em olhares folclorizados. Os enredos históricos começaram a ser cantados pela perspectiva do colonizador e depois dos colonizados (opressor versus oprimido): de um lado a camuflagem dos fatos da terra daqui, de outro lado o imaginário sobre a terra de lá - um festival de verdades míticas, um festival de mentiras históricas - mas, sempre rendiam uma boa letra de samba-enredo.  Hoje os sambas-enredo continuam com sua veracidade constestada, pois somarem-se os olhares dos coreográfos e cenógrafos que querem produzir um espetáculo apoteótico - os desfiles se renderam ao show-business - o Carnaval virou o maior evento da nossa cultura popular e da indústria cultural. É preciso ressaltar que os enredos são livres e não são só sobre a África, ou temas da História. Verdades ou mentiras, popular ou industrial o fato é que os desfiles do passado e os desfiles de hoje despertam grande fascínio.
    Estudos acadêmicos à parte, é necessário dizer que certas escolas de samba, toda vez que pisam na avenida provocam em muitas pessoas uma emoção inexplicável. Aliás, um bom samba é uma emoção inexplicável! É por causa do samba e das escolas de samba que gosto tanto do Carnaval.
   É emociante ver o azul e branco portelense tingindo a avenida, nesse momento mágico (dentro do coração de quem gosta de samba) sabemos que é a deusa do samba que está desfilando. O azul e branco também podem ser da escola lá da Vila, aquela que não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também. Pode ser também da magestosa e soberana, de fato, nilopolitana Beija-Flor. Quando as cores passam a ser o verde e rosa, temos a ciência que veremos a beleza de um cenário que a natureza criou - sim, é a Mangueira que chegou. E o vermelho e branco? Ah, pode ser a academia de samba que me faz feliz, salve Salgueiro! Pode ser também, o lugar onde podem matar-nos de amor... a escola de samba do largo do Estácio. Tantas cores, tantas histórias, tantos enredos, tantas melodias, tantas baterias - salve Tradição, Mocidade Independente de Padre Miguel, Viradouro, Unidos da Tijuca, Porto da Pedra, Caprichosos de Pilares e tantas outras...
   Ah, e nos desfiles não podem faltar a vozes potentes dos intérpretes de samba-enredo (puxador NÃO, como diria o grande Jamelão), o som do cavaquinho, as saias rodopiantes da ala das baianas, a encenação da comissão de frente e a elegância de um mestre-sala e sua porta-bandeira.
  Tirando os desfiles de carnaval e os sambas-enredo... Como é bom ouvir um bom samba e suas variantes. Sim, o carnaval é o tempo de lembrar que o samba vem do coração, que funciona como oração! 
  É Carnaval: Salve Ismael, Sinhô, Adoriran, Cartola, Noel, Candeia, Anicetos ( da Portela e do Império), Argemiro, Ataulfo, Casquinha, Dona Ivone, Dona Zica, Heitor dos Prazeres, João Nogueira, Jackson do Pandeiro, Jair do Cavaquinho, Jamelão, Jovelina Pérola Negra, Luiz Carlos da Vila, Manaceia, Monarco, Moreira da Silva, Bezerra da Silva, Martinho da Vila, Mestre Marçal, Nei Lopes, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Nelson Rufino, Paulo da Portela, Paulinho da Viola, Ratinho, Riachão, Silas de Oliveira, Tobias da Vai-Vai, Tia Eulália, Tia Doca da Portela, Tia Surica, Tinga, Walter Alfaiate, Zeca Pagodinho, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Noite Ilustrada, Elizeth Cardoso, Noca da Portela, Dorival Caymmi, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Teresa Cristina, Quinteto e Branco e Preto, Diogo Nogueira, Roberta Sá, Chico Buarque, Vinicius e Tom. Salve as velhas guardas: da Portela, da Mangueira, do Império... Salve Osvaldo Cruz e Madureira e todos os poetas da Praça Onze!
 Salve a todos que trazem o samba na alma e bom Carnaval!!!

3 comentários:

  1. Muito Bom! Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé - já dizia o grande Caymmi.

    Marcio Chagas

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  2. Excelente , minha senhora . Quem diria que o sangue alemão que corre em suas veias iria se diluir tanto na nossa brasilidade.

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  3. Como é curioso ver um texto tão profundo sobre uma data que se tornou somente uma festa ou feriado para viajar, ou pior, desculpa para colocar a Sandy de devassa.
    A história do surgimento do samba é muito rica, mas, bem como você colocou, está sujeita ao show-business.
    Ainda sim, ouvir uma bateria, até de bloco de rua, é emocionante.
    Parabéns pelo texto! Muito bom!

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